You can always come home
O tempo nos faz crescer.
o vento nos empurra para longe, espalha as folhas de uma frondosa arvore por ai, por ali, acolá, eu fui parar onde não tem mar, mas a lua que nos iluminava e o sol que nos aquecia, me consolam...
E a nossa casa não se desmancha em nossa mente, mesmo que um monstro chamado progresso a tenha derrubado sem piedade, sem ouvir nossos gritos pueris.
Então quando a noite vem, deito na alcova e adormeço, saio do mundo dos adultos e volto para minha casa, meu pai, minha megera mãe, meus irmãos, minhas irmãs, minha bicicleta, minhas bonecas.
E retorno ao mágico quintal, herança do avô paterno, que apesar de morto, nunca saiu de lá, estava sempre a nos assombrar, com sua alma que se recusava a ir, para não sei onde.
E em meus sonhos sempre há alguém a minha espera, a me acolher num longo e terno abraço, um abraço aconchegante e quente, e olho ao redor, está tudo como era, foi, será...
E aquela criança será feliz de novo por encantados instantes, o cheiro dos cajús, o aroma do café, a fumaça provocada pelo eletrodo encostando no ferro, as bicicletas Barra Forte, os gritos da menina a correr na hora do banho, a biblioteca própria repleta de tudo, o violão, os beliches, o baú das redes.
Nós juntos sem ódios ou rancores, só fraternidade, irmandade, confraria, brincadeiras e alegria.
Em meus sonhos sempre pulo o muro, ainda tenho pernas fortes e robustas, e sempre há quem me apare, me abrace me pegue pela mão, e me leve ao meu mundo real.
Tu tava aonde menina ?
Não sei !
Tã na hora do banho, pentear esse cabelo, colocar o laço de fita, pra ficar uma menina bonita.
E assim eu volto a viver.
Você sempre pode voltar para casa.
