segunda-feira, 29 de agosto de 2022

 Desistir 


O vazio dentro de mim,se assemelha a um  barco que tem medo de atracar no cais, mas o mar  me chama, ele clama e em lágrimas me derrama, e não me ama.

É um pedaço de mim,

que não me pertence, mas toma meu corpo frio, meu corpo louco,

o meu eu rouco,me toma um pouco do muito, que não sou.

E te digo a mim, tu é quem mesmo ?

Sei não, nasci aqui ao relento, em meio ao vento ,não tenho alento, a lente, a mente, que por hora ri, e noutra chora, e não mora em lugar nenhum.

E eu fico sem jeito, e me deito onde jaz minha alma fria, a brisa me enebria, não tenho guia, eu penso que tu sou eu ou eu sou tudo aquilo,reduzido a nada, na água se foi, ou se esvai, sem nunca ter vindo.

Tento  esquecer, que existo, insisto em não ser visto, e da cruz desisto, eu pulo, o muro, a ponte, do trem, não vem, não vou ,não fui, não sou,não ando, rastejo,pelejo, tenho um desejo, só ser ou ser só.

Essa face calada, exilada, amordaçada, amaldiçoada, cansada de viver, sem medo de morrer ,sem medo da porta, pensando na sorte de ser apenas pó, sem nó, sem dó, sem sol, sem sal, sem mal.

Preciso de um sonho, pode ser medonho, mas um sonho, onde eu fuja de mim, e me salve do meu próprio eu, cansei de lutar comigo, sou muito fraco para conter minha força em não querer viver.

Ai vem alguém escondido dentro de mim...

Vai desistir ?

Eu sou tu, e quero morrer vivendo, sofrer de sangue quente, quero estar com meus pés rente ao chão, e não numa lápide eretos, quero sentir meu coração pulsar, quero acreditar, pular no mar, derrubar o muro, atravessar a ponte, viajar de trem, quero ir com você muito além...

Além eu , além tu, além mar.

Vou te ensinar a  amar, amar tu, amar eu, a marte, a vênus, a lua, a tua alma linda,seja dessa vida bem vinda.     


Aos meus alunos e alunas que lutam com eles mesmos...   Adriana Noronha.

sábado, 27 de agosto de 2022

 Eles estão voltando

Com seus corpos robustos, cabelos alinhados, e com aparência de boas criaturas, os que juntam-se a eles também tornam-se réplicas, idênticas.
Saem aos montes de seus palácios erguidos a sangue e fogo, e revoam sobre a nação, são as aves de rapina mais perigosas que existem nesse vasto mundo vasto.
Deixam suas moradas suntuosas, privam-se de estar à sua mesa onde degustam, Bisteca alla Florentina, Polpetone, Cotoletta alla Milanese, Raviole, Gellato, acompanhado de uma garrafa de Chateau Lafite Rothschild, sem mencionar o serviço de porcelana, talheres de prata, copos e taças de cristal Baccarat sobrepostos no mais puro linho egípcio, acima de suas cabeças candelabros de bronze, uma varanda para o Paranoar, um lago tão artificial quanto sua honestidade.
Na manhã seguinte começam com sua tenebrosa caça ao animal mais manso que há naquelas redondezas inóspitas, deixam em casa seu sapato de cromo alemão, e colocam um dockside casual,
para descer ao patamar de sua caça.
E o Capitalismo será sustentado por aquelas criaturas que tem fé no socialismo, e o famigerado solta sua lábia que engana até o próprio Demo, eles andam em bandos pelas ruas sem pavimentação, com o esgoto que corre à céu aberto, entram em casinhas minúsculas onde vivem, aliás, se apertam oito, dez, quinze...
Lá não há split de 5000 BTUs, TV smart, cama king, geladeira de duas portas, fogão de indução, lá não tem nem alimentação, não há carne, leite, ou feijão.
Mas a caça tem fé e se alimenta de esperança, de um dia existir um mundo melhor para suas crianças.
E aquelas aves de rapina, os enganam bebendo água no copo de extrato, onde também são abraçam e com muito esforço beijam, assim como Judas o fez...
Falam em crescimento econômico social, melhorias para aumentar emprego e renda, o fortalecimento das políticas públicas, aumento das vagas nas creches, escolas, universidades para pardos, negros indígenas, e vão ludibriando seu plantel, sua manada...
E assim eles vão transformando o socialismo na mais pura filosofia do fracasso coletivo, transformado na pregação da inveja mútua, e aumentam a crença da ignorância, os políticos fabricam as mazelas do mundo, fomentam a perpetuação da miséria, para que assim sejam políticos vitalícios na sua inutilidade e consequentemente PODRES DE RICOS.
Pode ser uma imagem de ao ar livre
Andre Leandro Crespo Bispo e Vera Lúcia Reis

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

     Abri os olhos naquela manhã lânguida e imediatamente vi o sol,em todo seu resplendor.

Mas de repente, me vi também ali olhando os meus pés, e eu não estava deitada, estava diante de mim, ali, é ali e eu aqui.
Vixe !
me aproximei, com receio, tatiei, apalpei, apertei e belisquei.
Vala-me São francisco...
Eu não acordei.
Estava ali jazendo.
Oxe ! Ainda não era a hora, a tão não esperada hora mortis.
Mas pensei que poderia estar no lucro, eu ia encontrar a mamãe, o papai, reencontraria o primogênito, o irmão que foi ceifado, eitha ia conhecer o outro Reginaldo que morreu antes de eu nascer e todos os outros agregados na minha vida lá na terra.
Meu Jesus, ainda estou em minha alcova, não fui ainda pra cova, aquela de sete palmos, eu viva na do leões.
Ei ! Tu mora no nordeste. Ai é !
Então eu vivia na cova cheia de caititús.
De repente ouço Vivaldi.
Vivaldi ? Sim aquele das quatro estações...
Mas um vento passou e a música mudou, veio um som grave, opaco, cheio de tambores gigantes.
A Carmina. É, a Umburana !
Eu tava falando com quem ?
Com você mesmo, com a tua consciência, que está cheia de resposta sem perguntas, cheia de perdões sem erros, cheia de coragem sem medos, cheia de rancores herdados, e repleta de desejos ocultos não realizados.
Você não pode entregar meus podres, tu sou eu, ou eu sou tu.
Tu, tu, tu ,tudo é tu, e o eu ?
Alguém lá na triagem das portas de cima e de baixo, viu minha conversa, comigo mesma, e ficou encabulado, observando minha longa conversa comigo.
Essa vai dar trabalho, fala demais, é muito indagueira, e hoje tô afim de paz, silencio, mansidão, hoje me inspirei no funcionário público, ele existe mas nada faz.
E a Compadecida vinha passando, me olhou e disse.
Mande de volta, ela reza sempre pra mim, sempre me clama, ainda é uma menina pressa num corpo adulto, tadinha, e teve a ousadia de sonhar comigo.
Exatamente, eu tive que ir no sonho dela e ficar conversando horas a fio, nós duas sentadas numa pedra falando de coisas da vida, ela realmente gosta de mim.
E assim foi feito.
Eu acordei de mais um sonho, e tive a oportunidade de continuar sonhando acordada, no dia que vou de novo transcender e estar conversando com a Imaculada.
O trem apitou eu pro meu corpo voltou, e vou seguindo, e vivendo nessa cova cheia de caititús.
Pode ser uma imagem de 1 pessoa e céu
Raquel Noronha, Sara Mota e 5 outras pessoas
ova de Caititús