quarta-feira, 27 de junho de 2012

Flor negra


Eu sou uma pessoa tão triste , melancólica
e burramente presa ao passado .
Paraíso bucólico só existe nos quadros
e poemas dos cancioneiros portugueses .
Eu não canto e sou que nem a flor bela que espanca
sou flor negra , venenosa , indócil , sem cheiro repleta de espinhos .
Meus caminhos são desfiladeiros , brenhas ,  abismos , precipícios
trilhas de lama , de ramas ervas daninhas .
Meu refúgio fica lá no infinito céu , onde posso pairar , sonhar , me
fartar da mais completa e branca solidão .


Adriana Noronha .
 Breve  destino


 Meu lindo menino , minha criança rosada
 meu filho querido , perdeu-se no mundo .
 Procuro e não acho , meu lindo menino
 por certo perdeu-se , num abismo profundo .
 Talvez um dia  depois de muito procurar eu hei de te achar ,
 porem não importa , pois já posso estar morta .
 E se vivo ainda , não vejo mais meu lindo menino
 que transformou-se em pássaro  e escolheu um breve destino.

E tenho dito

Ai meu Deus , como é duro adaptar-se a essa catástrofe
chamada mundo , impuro , imundo .
Minha dor é saber que , estou fora dos padrões atuais  e
faço parte de um grupo onde não cabem normais .
Papai já morreu , mamãe caduca ficou , Deus sabe o que faz ,
eu é que nunca me senti capaz de engolir um mundo fulgaz .
Corro , corro , socorro ,  as mazelas do mundo sempre no meu
encalço , cada ser que encontro é ardil  é falso .
Talvez eu seja idêntico , autêntico , e tambem acho que acredito
que minha maior mazela sou eu , e tenho dito ,

Arco-íris negro.

Eu não sei em que  mundo vivo ,
só sei que é um  mundo em que as pessoas , são apenas normais .
Mas ao acordar vejo quão bizarro o mundo real aparenta ser ,
aliás ele é , cheio de canalhices , orgias ,troca-troca , gente querendo...
Ser aquilo que não são , mudam sua face em face dos acontecimentos .
Somos  maus elementos , sem noção , sem rumo , sem ação e caímos na sedução
de nos transformarmos em pobres homens e mulheres que querem ser o contrário do que são.
E assim  levam a vida perdidos em espetáculos  multicoloridos e cheios de brilho num palco
que dura apenas efêmeros segundos , e resta-lhes a vida inteira para penarem na escuridão.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Branca menina .

Para onde levam os sapatos vermelhos a Branca menina ?
Atravessa a cortina cheia de estrelas a Branca menina !
Sua vara de condão transforma em Deusa a branca menina .
Acorda menina ! hoje é dia de branco vai trabalhar .
Pára de sonhar , Branca menina .

Adriana Noronha .
Lindo Rapaz Moreno do Rio 

Voce vive entre livros coloridos ou mão . 
Cheios de histórias ou informação .
lindo rapaz Moreno do Rio
Nasceu de Cleópatra rainha do Nilo .
Teu pai é um belo cavalo Marinho .
Tua irmã é Branca como as ondas do mar .
A tua história eu vou ilustrar em cores bonitas à luz do luar .
E com a força do barro eu vou te moldar .

Adriana Noronha
Vai pro além

 O corredor dos meus sonhos , é cheio de sons , gente falando , 
 as vezes gritando , vozes agudas , distorcidas , sofridas .

 Caminho adiante , ouço uma chuva que cai , num brilhante  telhado de
 alumínio , estridente , ensurdecedor  nesse meu corredor .

 Passam por mim , pessoas sem faces , sem cor , cheias de dor .
 seus corpos são frios , por vezes sombrios .


 De repente uma flor , cheia de amor , de doce odor , numa cor vibrante
 qual um coração vivo , pulsante , de um cavaleiro andante .


 Mais adiante , a chuva se vai , não vejo ninguém , é como um velho trem ,
 que entra num túnel , e vai pro além .

terça-feira, 19 de junho de 2012

Dayse multcor 

Vejo todas as cores em voce .
O vermelho que é a tua paixão .
O amarelo teu peso em ouro .
Ah ! O verde que de esperanças te inunda !
O azul denúncia e mostra tua persona celeste .
A cor magenta , a vida que tu sabiamente enfrenta .

Adriana Noronha . 

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Agora jaz .

Achei um velho caderno do colégio com as páginas
já amareladas , dentro dele uma tépida rosa pálida 
Que outrora quente , tinha cor de carne , de sangue ,
da paixão .
Paixão que ficou guardada , amassada , imprensada
entre aquelas páginas amareladas ...
E assim ficou minha vida ,mediocremente vivida ,
sem a avidez do teu amor , sem a gradeza do teu furor.
Uma vida fulgáz , que agora jaz .

Adriana Noronha .

Véu alvo e frio


Véu alvo e frio


Saio de meu involucro de olhos abertos ,
mas num sono profundo .
Atravesso a parede , surjo em outra dimensão ,
Somente o breu da noite e eu , olho para dentro de mim .
Vislumbro uma nuance translucida ,
a alma que diante dos meus olhos...
Se esvai freneticamente , as vezes lânguida ,
envolta num véu alvo e frio .
O vento , ah esse vento !
Que teima em soprar ...
O sopro de minha vida se esvai , quero voltar a ser carne.
Voltar ! Voltar ?
O véu alvo e frio de minha vida dissipou-se ,
a carne em pó transformou-se.

Adriana Noronha .

sexta-feira, 15 de junho de 2012

 Ecoa no céu


 Aqueles gritos ÔÔÔÔÔÔ Norooooooooooonha .
 Que ouviamos ecoando lá no nosso mágico  quintal .
 Interrompia nossas correrias e brincadeiras .
 Era hora da pior hora , a do banho , jantávamos , dormíamos ...
 Mas um dia acordamos adultos ,e tudo transformou-se .
 O som doce daquela  voz  , agora ecoa lá no ceú.
Ouvir tua voz 


Domingo eu tive uma sensação , de afago no meu coração .
Voltaram naquele instante todos os momentos bons da infância .
Parecia que nunca saíra de minha terra natal . 
Bastou fechar os olhos , e cheguei lá em casa .
Tudo e todos ao meu redor , eu era feliz novamente .
Mas a vida tem dessas coisas , a pior delas, a distância.
Gostei de ouvir tua voz , igualzinho a da nossa juventude .
Bonita como um dia de domingo com a família reunida.
Ao redor de uma mesa enorme cheia de comida.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Nesse lugar 




Oi mamãe lembra quando a senhora me deixou aqui. 
Salvador ,O Adamastor , rua Chile , Palace Hotel , a Bahia era de todos os Santos .
Chorando por clemencia , implorando ,mas voce se foi ,eu nao acreditei.
Não acredito ate hoje , eu so tinha quinze anos, morri naquele dia.
Eu nasci na terra da luz , mas mergulhei numa treva profunda dentro de mim.
Voce me tirou meu pai ,meus doze irmãos, o colegio de freiras , a natação .
O meu quintal as roupas no varal , minhas bonecas sumiram ,a bicicleta ...
Capricho seu desespero meu, vi a Rebeca nascer mas não a vi crescer.
Aqui tem o Amado ,eu Gosto do Alencar .
Aqui tem acarajé ,eu gosto é de tapioca .
Aqui tem Iemanjá , ai O Dragão do mar.
Eu não consigo apagar como era boa a minha vida .
Ah se tivesse tido coragem te enfrentar .
Talvez eu nunca tivesse aqui nesse lugar.
Não importa 




Meu coração vai bater num ritmo mais feliz.
Vou pra casa , de onde não devia ter saído Vou estar perto dos meus.
Serão mesmo meus ? não importa, eu vou.
Pra quê crescemos ? tudo desmancha-se quando somos adultos.
Mas é facil nos mantermos crianças .
O cheiro da comida ,as conversas ,o baralho .
O barulho de todos falando juntos ,inintelegível, mas maravilhoso. Esquecemos mágoas e somos todos irmãos e crianças ao redor da mamãe.

Na porta 


Meu coração esta flutuando ,vou lá em casa .
Poderia ir correndo ,mas prefiro voar.
Vou fingir que achei tudo como deixei .
Ate o papai , Wilame e Reginaldo estarão lá .
Eu vou , e a mamãe em pé na porta a me abraçar .
Afinal nasci e me criei em Fortaleza lá no Ceará .
Rosário


Ainda bem que existe a noite , pois assim posso estar lá em casa em sonho .
Percorro todos os lugares , mexo nas comidas , acordo os cachorros .
Olho a mamãe dormindo , agarrada ao seu rosário , vou no quintal .
E vejo quão bom era morar aqui , de repente alguém me chama .
O dia amanheceu , acordei ,mas uma nova noite virá .....

WILLIAM 

Ele era lindo na sua farda verde .cabelos negros com corte militar.
Um sorriso sem malicia, mas que arrebatava os corações das donzelas.
O corpo foi emprestado por Apolo .
A força nas barras assimétricas , no cavalo e argolas eram de Hércules .
E assim as ninfas se encantavam , sonhavam , espreitavam , flutuavam .
Mas ele tinha um defeito , uma mãe , que o tornava feio ,apagava seu sorriso .
Envergava seu corpo , tirava sua força , espantava as donzelas .
Seria ela a encarnação de Jocasta , ou ela seria o próprio Cérbero .
Até que um dia , viu Afrodite apaixonou-se e ela o levou .
Sua felicidade durou pouco , e ele se foi no barco de Caronte .
Parece historia de William , que não é Shakespeare .
Minha certeza , ele não está no sub mundo com Hades .
Mas lá no céu , perto de Zeus , sob a forma de um Semideus .
21 ·  · 

domingo, 10 de junho de 2012

Tias tios mãe .

Minha tia Maria Luísa  um doce ,que me enchia de guloseimas e doces beijos .
Minha tia Maria do Carmo que nem um coronel  saía botando ordem no quartel.
Minha tia Maria  Augusta  frágil por fora de aço por dentro .
Minha tia Maria Eunice a mais linda e elegante porem a mais distante .
Meu tio José , foi feito numa forma de fazer sapo , para Preta um príncipe nato .
Meu tio João Batista levava-me para comer pastel com caldo de cana na Leão do Sul .
Meu tio Nonato lindo na sua alva farda , se foi ainda rapaz  sem nunca  olhar para trás .
Meu tio Noronha contemporâneo  criado junto dos sobrinhos que viraram irmãos .
Maria Justa,mente a que veio com o nome trocado , injustamente equivocado .




Medíocre mundo


 As vezes  encontro-me mergulhada
 em minhas saudades , são tantas , inúmeras saudades .
 Consigo andar nas nuvens , imensas , infinitamente densas .
 posso tocá-las , senti-las , vislumbra-las .
 Meus passos pesam de repente , caio num abismo
 inóspito , longo .
 Mas a esperança  agarra-me , segura minha alma
 impedido-a de sair de meu corpo já inerte .
 Me sacode , e enfim acordo do êxtase  provocado
 pela minha ânsia de alcançar o que perdi .
 E mesmo de olhos abertos ,vivo num sono profundo
 muito alem , alem mar desse medíocre mundo.


Adriana Noronha .



sábado, 9 de junho de 2012

Verdes Mares

Eu tinha os Verdes  Mares  inteiro só pra mim ,
mergulhava sem medo  nadando  lá no fundo .
As ondas   gigantes não me amedrontavam ,
suas espumas banhavam não só  meu corpo , mas minha alma .
As vezes chovia , água doce e salgada misturavam-se , temperando ,
 minha doce vida de adolescente .
Mas um dia cresci e descobri como é a vida longe do mar,  insípida ,
e sem o Dragão do Mar  por lá sempre a  me zelar.
Vendedor de picolés

Sob olhares anônimos numa rua asfaltada  e  estreita
meus sapatos de boneca levam-me ao colégio .
Acelero o passo , rostos pálidos , opacos , cinzentos
bocas com batons encarnados .
Transeuntes , pessoas , gente , multidão entre carros e fumaça
todos sozinhos dentro de si , fechados ao mundo a tudo .
Minha farda escolar , meus livros e, uma trança nos longos cabelos
paro uns  instantes, ouço your song - Billy Paul , parei  fiquei  estacionei
ô ô ô ô ô  ô ô  um vendedor de picolés me derrubou .

Flor no cimento


Como uma flor que floresce nua
num chão duro de cimento ,
Eu sou , só  uma estranha sobrevivente
porém nunca  demente .
Enterro aqui meu lamento , hoje vou à luta ,
à  vida , corro na rua , roubo  a própria lua .
Rodopio no céu , alcanço o firmamento , eu sei
eu hei de ser no mínimo , no mundo algo muito
melhor que voce .

terça-feira, 5 de junho de 2012

    Felicidade

É a mãe o pai os irmãos ,
casa barulhenta desarrumada ,
bicicleta ,comida ,suco de mastruz ,
bolo de carimã , ambos horríveis !
É a casa na serra , as viagens de trem  ,
as brigas  brincadeiras e surras  , cinco gatos , doze cães  ,
o colégio de freiras , o quintal enorme ,
o Jeep , o mar , tias , tios ,  primos , inimigos ,
catapora ,é a vida que hoje não tenho mais .

 A vejo mergulhada em si
 e calada observo-a , ela não me vê .
 Suas mãos acariciam as teclas do piano ,
 que lhe respondem em melodia .
 Consegue flutuar , flanar ,
 E as teclas pretas e brancas juntas ?
 A harmonia do ébano e marfim ,
 subitamente quem amo entra na sala .
 Para ela  a  magia acaba ,
 ele é mulato , lindo !
 Ela fidalga , racista ,
 fecha o piano, não lembra .
 Que o negro e branco estão juntos ,
 e eu estou entre os dois .