sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Grandes e tristes olhos 

O que está escondido atrás desses 
grandes e tristes olhos ?
Neles há muito amor ou
muita dor ?
E as cores da flor ?
Um olhar de brilho muito fraco ou um
olhar opaco ?
E essa nuvem que te envolve !
Que te lança ao mais infinito de tu ,
teu Mundo gira numa cadência redonda
ou hedionda ?
Se esconde nas cores , ou maqueia teus
rancores ?
Te cobres de odores , ou te enche de
amores ?
Vai voa , vais ao mais infinito
céu .
O Mundo não é de papel .
Faz de mim
teu mel ,
teu meu ,
teu mal ,
teu sal .
Me leva onde , te leva o teu olhar , e
me olha ...
Desse jeito assim ,
e serei sempre
e sempre serei
o que nem mesmo eu sei .


Adriana Noronha
Sentada na praça 

Em meados do ano as belas meninas , colegiais da Escola de freiras com seus sapatos cara de boneca , queriam dançar quadrilha , festa junina lhes causava alvoroço , muitas moças nenhum rapaz ...
Qual a solução ? 
Colegio Militar ! 
De novo não , são os mesmos do ano passado .
Então eu joguei com a cabeça ...
Que tal os alunos da Edgard Facó , são mais velhos , mais bonitos , são lindos em sua farda de cadetes .
O suspiro foi geral ....
Ahhhhhhhhhh !
Então trato feito , as freiras concordaram , desde que eles nos buscassem no colégio às 18:00 e nos devolvessem em casa às 21:00 .
E os ensaios começaram , o ônibus chegava à Escola doméstica São Rafael , lá na Av do Imperador , e nos levava ao clube dos Oficiais ,lá na Praia do Futuro .
Eles eram morenos , louros , negros , esguios e havia um de cabelos de fogo , ruivo , de nomes muito variados Moabe , Junior , Estevão , brugnólio , Oliveira , Marcos ...
Os ensaios eram muito divertidos , a única coisa ruim era uma arrogante e feia chamada Violeta além de nariguda , estúpida , mas somente descobri o porquê , quando soube que seu par queria ser o meu par .
E realmente eu só olhava para o meu par , alvo louro olhos verdes e muito bonito .
E o tempo passou e chegou o grande dia , do baile , meu par ficou detido por insubordinação , e a tal Violeta com má digestão , faltaram dois eu e o Oliveira tivemos que nos contentar um com o outro ...
O Marcos é baitola , queira ele não !
Tá brincando !
Verdade ...
Então ai começou uma história que foi parar no banco da Praça da 10º Região Militar , e nas tardes de sábado e domingo ficávamos lá vendo o bom da vida passar , dois apaixonados que não puderam o amor sustentar pois ele não era alvo de olhos verdes apesar de tão lindo quanto .
Era apenas um jovem aspirante , que não era branco e nem moreno e de novo a megera interrompeu mais uma história de amor ...
E hoje passados trinta e cinco anos aquela mulher , senta-se naquele mesmo banco , onde a inocência ainda existia , e seus olhos vêem seu jovem aspirante , a passar numa bela farda de Coronel .
Ela não o chama , não clama ...
E assim a vida é , a vida segue e a vida vai .

Adriana Noronha
Espevitada 

Havia uma menina muito , muito espevitada , 
das três ela era a mais desastrada ...
Gritava alto , corria demais era difícil mantê-la 
parada .
À mesa era um desastre , misturava a comida
e era impossível não derramar a jarra do suco 
o refri ou o pudim , desse jeito assim .
Certa vez numa viagem o carro cheio de gente ,
a pimenta espalhou-se no ar e todos desceram
correndo a chorar e com vontade de esganar ...
Ao amanhecer seus cabelos causavam terror ,
prendê-la nas pernas e pentear-lhe era um horror .
E o tempo passou , numa pela moça ela se transformou
veio o primeiro amor , e de novo outro amor .
E seu caminho seguiu , um marido sua paixão , seu
orgulho sua formação , depois seu maior tesouro chegou
igualzinha a ela única diferença cabelos de outra cor .
E veio sua maior provação , e de tão feliz que era aquela
menina , sua gana em viver a fez renascer outra menina .
E abençoada pelo próprio Pai Celestial sua vida segue como
sempre foi ...
E aquela menina hoje uma grande mulher
sabe muito bem o que quer
seguir em frente , rente
e espalhando por onde passar
a sua grande garra em lutar ,
pedalando e espalhando
as flores que recebeu
na sua abençoada vida .
Essa é voce !
Sempre voce .

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Grande cabeça oca

Fiquei lá no alto olhando o tempo ,
e veio o vento , e meus pensamentos 
pesaram em minha grande cabeça oca .
Naveguei um tempo dentro desse vento ,
chamado vida louca .
O abismo é fundo , e ele se chama
Mundo .
E o meu não existe dentro de mim , por 
isso sou assim ...
Sem começo e nem fim .
Um horizonte torto , e aquela brisa fria
que queima minh'alma , sem calma , sem
palma , só alma , alma só .
E como um almanaque de folhas brancas ,
não escrevo o que sei , e não sei o que escrevo ...
Eu não tenho medo , não tenho pudor , não sinto
ardor , amor , odor , mas muito horror .
O abismo é fundo , e ele se chama
Mundo .
Um lugar imundo , raso e dantescamente
profundo .
O vento vai e o vento vem , dentro de mim
nada tem .

Adriana Noronha

terça-feira, 17 de setembro de 2013

A azeitona do pastel tem carroço .

Numa tarde incandescente lá no Benfica , estava eu a fazer tarefas escolares , um carro parou , ele entrou e perguntou 
Cadê a Maria Justa ?
Levantei a vista era ele , paletó , gravata , sobrancelhas fartas e seus inconfundíveis óculos fundo de garrafa .
Tio Batisssssssta !
A mamãe não tá ...   
Puta que pariu !
Então vai se arrumar , que nós vamos passear .
Dei um pulo , e corri a me aprontar , vestido vermelho de poas brancos , justinho na cintura e saia farta , na bolsinha de mão nem um tostão .
Menina tu é muito linda , vai me dar trabalho .
E no táxi fomos , atravessamos a 13 de Maio , Domingos Olímpio , Duque de Caxias , ele quis entrar no Coração de Jesus , entramos rezamos .
Enfim Praça do Ferreira , reunião numa sala no prédio da Farmácia Pasteur , muitos senhores todos como ele de paletó e gravatas , e eu lá naquele universo que não era o meu .
Perguntaram quem era a mocinha .
Ele respondeu ...
Cumade Cirninha minha sobrinha , e tirem olho !
Ai meu Deus , ele disse meu apelido ...
Entramos na Lobrás e fomos tomar um sorvetão enorme , porém um lindo rapaz o derrubou em cima de mim , talvez num tombo proposital .
Tu vai vais pagar outro fila de uma puta !
E outro sorvete , e um olhar malicioso do lindo rapaz , alvo louro dos olhos azuis .
Um café expresso no Hotel Excelsior , e finalmente o grand finale , pastel com caldo de cana na Leão do Sul , e o aviso A AZEITONA DO PASTEL TEM CARROÇO .
E de novo o lindo rapaz , que estava na fila à minha frente esbarrou de novo em mim e perguntou .
Tá me seguindo ?
Eu não !
Mas voce sim , marmanjo , falou o Tio Batista .
Calma Noronha !
Falou o pai do jovem rapaz . 

Que também estava naquela reunião de homens engravatados .
É moça de familia , não é pro teu bico .
E naquele momento meu tio profetizou ...
O que é proibido é mais cobiçado .
E o jovem rapaz sorrateiramente me deu um cartão , fulano de tal e tal , Relações Publicas APLUB .
E uma das tardes mais fantásticas de minha juventude , me renderam um rapaz que ficou fascinado por mim , mas meu coração já tinha dono .
Telefonava diariamente , dizia que possuía uma CB 400 um Del Rey azul , que era de familia muito rica e nunca levou um fora de mulher nenhuma ...
Realmente , foi ai que lembrei do tio Batista .
Mas levou um fora de uma moça de familia .
E de volta ao lar , lá ficamos vendo ele a a mamãe cantar .
Numa roda cheia de harmonia só com gente de família .

Adriana Noronha
LATIFÚNDIO

Todos vão pra lá
seja rico
seja pobre
inocente 
ou arrogante ...
" essa é a parte que te cabe desse latifúndio "
É o lugar mais certo
desse mundo .
A carne volta ao pó
a vida dá um nó
vamos só .
Alguns cedo
outros tardiamente .
Não adianta correr
se esconder
sair da fila ...
Ela esta a te espreitar
e sabe a hora de chegar .
Nada no mundo
tem dono
pois o dono do mundo
é ninguém .
E ninguém quer ir
para um lugar
raso
e
ao mesmo
tempo
profundo .
Essa é a única certeza do nosso MUNDO .


Adriana Noronha
João Castilho, Terra Dada
Nem você nem eu nem Deus

Não abra as gavetas de minh'alma ,
lá não encontrarás nada .
Por anos a fio , pensei que vivia , fluía
corria pelos campos alísios da vida .
Fui acumulando sonhos , arranhos ,
cicatrizes , feridas ...
Na gaveta do coração uma breve ilusão ,
nas gavetas do peito
derramou-se o leite
no estomago gosto amargo
de fel com azeite ,
naquela das estranhas ,
só há coisas estranhas .
E por aquela fechadura ,
que tentei não abrir ,
invadiu-me o bem e o mal ...
Basta , não venha
não vá lá ,
pois mais nada há de encontrar , e o que havia
nunca hei de te falar .
São apenas gavetas vazias , que um dia para
sempre vão se fechar .
Nem você , nem eu ,
nem Deus .

Adriana Noronha



Vagina 

Eu quero voltar pra casa .
Quero não ter nascido menina ,
talvez se eu fosse um rapaz , seria muito amado por minha 
doce mãe .
Doce ?
É doce mãe , ela adora os rebentos meninos ...
Puta que pariu !
Outra menina ...
E assim eu vim
Eu sou um manuscrito que ninguém consegue ler ,
decifra-me e te devorarei .
Pois nem eu mesma sei , o que sou , pra onde vou ,
no que a vida me transformou .
Minha alma esta jazendo , se consumindo , os longos cabelos
escondem minhas costas surradas , as minhas cicatrizes da vida .
Escondem o erro de eu ter nascido eu ,
poderia ser muitas outras coisas , mas só soube mesmo ser eu ,
não mudo , não melhoro , não renovo , não nada .
Alguém gritou ...
Largue de loucura ...
E acordei daquele transe ,
daquela hipnose , que me anula , em detrimento de outrem ,
e o trem veio e esmagou-me .
E agora vou ser o quê mesmo ?
Eu só sabia ser menina ,
eu não tenho falo .
Então diante de ti me calo , não Falo ...
E como menina nasci com vagina ,
imagina , pobre menina ...

Adriana Noronha

sábado, 14 de setembro de 2013

Lar doce lar

Eles nascem sadios
e crescem lindos .
Cobertos de muito cuidado e
proteção .
E vamos tirando dos seus caminhos
as pontiagudas pedras .
E assim o tempo vai , não volta ,
e vai mais à frente .
E de repente eles crescem e ao mundo
se vão .
E num sono profundo nós ficamos ,
ficamos sós .
E como um pressagio ruim , entram numa
péssima escola .
E lá aprendem o que eles nunca viram no
LAR DOCE LAR .
Jogam pedra na cruz .
E não sabemos quem os induz !
Suas vidas viram fumaça , e eles se reduzem
ao pó .
Mas desse mesmo pó surge a garra de lutar e tentar
seu rebento salvar .
E assim fez a PIETÁ ...
O colocou ao colo .
E da mesma forma para o meu colo eu vou te
buscar .


Adriana Noronha 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013


Batista 

O jovem rapaz cheio de sonhos e com a vida inteira à sua frente , no dia da Independência foi zanzar pelas ruas do Rio , e aquele dia prometia ... " 

"Calça nova de riscado 
Paletó de linho branco 
Que até o mês passado 
Lá no campo inda era flor
Sob o seu chapéu quebrado
Um sorriso ingênuo e franco
De um rapaz moço encantado
Com vinte anos de amor "

E lá se foi , pelas graças divinas o lotação quebrou , e do outro lados belas moças sob rígida vigilância da madre saíram para assistir o Manto Sagrado .
O rapaz chateado resolveu desistir do Baile , lá na rua do bispo , e foi a casa do Estudante , e lá Santa Luzia limpou suas vistas .
E para ele o céu se abriu , entre as moçoilas , uma sem igual , mais linda que aquela lá de Mônaco ou será Portugal ?
E seu coração nunca mais foi o mesmo , e os amigos a sorrir , e disser-lhe .
Aquela ?
Tá difícil ...
E o jovem rapaz falou : " vou casar com aquela ali "
Era um lobo apreciando as uvas .
E a persistência do rapaz amaciava o coração da bela jovem .
E ao som das serestas , seu amor a encantava , e em Paris foram passear .
De repente um noivado anunciado .
O casamento civil para garantir seu legado .
E o religioso para abençoa-los por todo o sempre amém .


Adriana Noronha 
Sexta feira 13

As lembranças da minha infância no quintal
do vovô Chiquim ...
Nos coqueiros , enormes morcegos alados de
vôos endiabrados .
O vento frio que furava qualquer alma viva ,
tornando-a loucamente doida .
A casa tinha um encanto de transformar belos
brinquedos em coisas hediondas .
Belas meninas repletas de candura em espíritos
cheios de feiura .
E os adultos que lá moravam eram como palhaços
tristes e vorazes .
E assim a vida ia
a vida corria pra longe ...
E aquele circo de horrores , me encantava todas
as noites ...
Embaixo das arvores grandiosas e escuras , seu
cheiro enebriava e adormecia .
E lá no alto um ser alvo , e calmo que me contava suas
estórias num silêncio absoluto .
E eu sempre o via todas as noites de minha feliz infância
no galho mais alto da azeitoneira .
Quem seria ?
Quem foi ?
Quem era ele ?
Ao sinal da primeira luz do dia ele sumia , e eu em minha
cama amanhecia .
E aquela árvore encantada pelo progresso foi derrubada .
E hoje , o procuro em meus sonhos , que quando criança
foram pura realidade .
Saudade de ti ...
Muita saudade .


Adriana Noronha 

terça-feira, 3 de setembro de 2013



Kamilla Mestre

De nada adiantam
paredes
largas
numa 
torre alta
e grades
de grosso ferro .
Esqueces que tenho alma
e que minha paz me acalma .
E mesmo nessa escuridão de fosso
posso voar , voar e
chegar ao mais
distante de mim .
E que só eu posso ir em
meus sonhos dantescos
e sem fim .
E mesmo no carcere posso
ser eu ,
eu sou , fui e serei fiel a
minh'alma .
Sou carcereira de meus sonhos
e posso
libertá-los além mar .
Talvez ir , sumir e quem sabe
tornar a voltar .


Adriana Noronha