Vagina
Eu quero voltar pra casa .
Quero não ter nascido menina ,
talvez se eu fosse um rapaz , seria muito amado por minha
doce mãe .
Doce ?
É doce mãe , ela adora os rebentos meninos ...
Puta que pariu !
Outra menina ...
E assim eu vim
Eu sou um manuscrito que ninguém consegue ler ,
decifra-me e te devorarei .
Pois nem eu mesma sei , o que sou , pra onde vou ,
no que a vida me transformou .
Minha alma esta jazendo , se consumindo , os longos cabelos
escondem minhas costas surradas , as minhas cicatrizes da vida .
Escondem o erro de eu ter nascido eu ,
poderia ser muitas outras coisas , mas só soube mesmo ser eu ,
não mudo , não melhoro , não renovo , não nada .
Alguém gritou ...
Largue de loucura ...
E acordei daquele transe ,
daquela hipnose , que me anula , em detrimento de outrem ,
e o trem veio e esmagou-me .
E agora vou ser o quê mesmo ?
Eu só sabia ser menina ,
eu não tenho falo .
Então diante de ti me calo , não Falo ...
E como menina nasci com vagina ,
imagina , pobre menina ...
Adriana Noronha
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Alguém que já sentou na lua.