terça-feira, 29 de outubro de 2013

Aconchegar 

Eu vou lá em casa , e não é nem Natal , mas eu vou lá em casa .
me deu uma vontade de correr , de fugir desse Mundo de adulto , desse Mundo artificial .

Não quero saber no que me transformei , numa mulher , esposa , 
mãe ou uma simples e simplória professora ...

E quando chegar na esquina , vou voltar a ser aquela menina ,
e ao entrar lá , tudo vai estar no seu devido lugar , o papai na oficina
a mamãe a cozinhar , os meninos e as meninas naquela eterna disciplina .

Vou correr pelo quintal , colher cajus , apanhar as roupas no varal , ver
passar o trem , subir na azeitoneira e ver a torre da Catedral .

Minha mãe não será senil , meu pai ao seu lado vai estar , e não verei
meus irmãos no mundo a se espalhar .

Nada vai ser diferente naquele lar , onde no mundo inteiro melhor lugar
não há ...

E aquela mesa debaixo da mangueira vai estar cheia de gente , com uma
comidinha bem quente .

O Sol vai nascer maior , vou ver chover , o galo vai cantar mais alegre , e a noite
vai ser longa alegre e estrelada .

O vovô vai nos assombrar , mas não vou me assustar , vou adorar estar de novo naquele lugar , naquele lugar e me aconchegar ...


Adriana Noronha

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Ei , acordas ...
Por quê dormes assim ?
Tu és um anjo da guarda ...
Onde está aquele que tu deverias cuidar ?
Onde o perdestes ? 
Levantas e vai ao seu auxilio , procura-o pelas ruas escuras ,
pelas noites inebriantes ...
Não o deixes voltar ao pó tão cedo , por causa do pó , se tens dó
levantas e vais .
Ouves o choro daquela mãe , o choro de toda mãe é imaculado , mesmo
sabendo que seu filho foi concebido no pecado .
Revolves o Mundo , procura ali , remexe aqui , voa bem alto , voa , voa longe ,
olha nos becos escuros , por trás do muros , talvez no entulho ...
Ele não fugiu do berço , e sim arrancado do peito , do peito da mãe , o leite
agora derrama ...
Ouves aquelas preces , daquela que roga aos céus , a Deus e a ti anjo da guarda
vais em busca daquela ovelha que desertou !
Traz de volta o rebento , mas ele for muito pesado , ficas ao seu lado livrando-o de todos os males e dos ares .
Mostra a ele o caminho da volta ...
O caminho de casa , desnuda os seus inimigos e o traz ...
Coloca-o num retiro alto e seguro .
Ele ainda não esta maduro , pensa que cresceu e por isso se perdeu , tira-o da cruz pois só que pôde com ela foi Jesus .
Ele ainda não esta pronto , mas se ele não vier , protege-o por todos os cantos , e assim diminui da mãe aquele pranto .
Acordas e vai , voa , Santo anjo do Senhor , seja seu zeloso guardador pois já que a ti o confiou a piedade divina , vai , sempre o rege , o governe , o ilumine , amém .

Adriana Noronha 

Foto: ♥ Durmam com os anjos, uma ótima noite para vocês. Até amanhã ♥
Quintal das Cores
O dia amanhecia 
a meninada pro banheiro corria ...
E assim a vida naquela casa 
fluia ...
E lá na cozinha alguém com suas mãos de fada
algo de bom fazia !
E a mágica transformava carimã em dedicação de
mãe .
E o cheiro do mingau espalhava-se no ar , misturando-se
ao perfume das meninas
e ao cheiro da espuma de barbear .
E a mesa arrumava-se toda para aquela confusão acalmar
e meninos e meninas
chegavam de par em par .
Podíamos comer de tudo , ovo , pão , cuscuz ,
e até não comer
mas do mingau de carimã era impossível escapar .
Tinha que beber para não apanhar ...
Costume lá do Bonito , aprendido com uma
avó , que se foi , antes
daquela prole se completar .
E assim a vida fluía e para escola toda aquela turma
corria .
E ao portão o patriarca soltando ao vento o cheiro de seu Cubano
que nos envolvia ...
E assim naquela casa a vida
fluía ...
Hoje a vida vai , não volta
a vida vai ...

Adriana Noronha

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Sabor e encanto

O amanhecer lá em casa era meio mágico ,a brisa da manhã chegava calma e fresca
as redes lotadas de meninos fortes e de belas meninas , mas o som ensurdecedor das alpercatas do papai Chico Brasil arranhando o chão nos tirava do sono e dos sonhos , o banheiro era enorme mas era só um e a fila congestionava , e o nosso amanhecer era literalmente bem de manhãzinha mesmo , muita gente , muita algaravia , muita confusão e a rede que ficava vazia mais cedo era a da mamãe Maria justa .
Onde ela achava tanto vigor em madrugar e aquela turma empurrar pra lida , pra vida , pra rua ou pra Lua ?
O primogênito usava sua farda verde e coturnos alados , a farda das moças eram saias de pregas numa cor grená que o vento insistia em levantar , os pequenos iam pro jardim da infância e assim a vida fluía .
Mas melhor do que amanhecer era sentir o cheiro que vinha lá da cozinha , uma nuvem que tomava conta de toda a casa e da vizinhança , causando inveja aos maridos que não eram casados com a mamãe , ela além de bonita sabia cozinhar como ninguém ,e isso era o cheiro que despertava a inveja daquelas que só sabiam ovos cozinhar .
E os pratos de canjica estavam todos espalhados na mesa , as palhas do milho na chão , o bagaço era dos pintos , e nós brigávamos para raspar a panela , é para raspar a panela pois era nela que estava o melhor daquela manhã .
E assim ela nos criou para a vida , e a vida veio a vida foi e a vida ainda esta indo ,e agora ela mudou de lado , tem quem faça aquela canjica , com o mesmo sabor e encanto , mas ela mudou de canto , e agora raspa o melhor , volta a ser aquelas belas meninas e se lembra de seus meninos fortes .
E ainda insiste em viver .


 Adriana Noronha