Sabor e encanto
O amanhecer lá em casa era meio mágico ,a brisa da manhã chegava calma e fresca
as redes lotadas de meninos fortes e de belas meninas , mas o som
ensurdecedor das alpercatas do papai Chico Brasil arranhando o chão nos
tirava do sono e dos sonhos , o banheiro
era enorme mas era só um e a fila congestionava , e o nosso amanhecer
era literalmente bem de manhãzinha mesmo , muita gente , muita algaravia
, muita confusão e a rede que ficava vazia mais cedo era a da mamãe
Maria justa .
Onde ela achava tanto vigor em madrugar e aquela turma empurrar pra lida , pra vida , pra rua ou pra Lua ?
O primogênito usava sua farda verde e coturnos alados , a farda das
moças eram saias de pregas numa cor grená que o vento insistia em
levantar , os pequenos iam pro jardim da infância e assim a vida fluía .
Mas melhor do que amanhecer era sentir o cheiro que vinha lá da cozinha
, uma nuvem que tomava conta de toda a casa e da vizinhança , causando
inveja aos maridos que não eram casados com a mamãe , ela além de bonita
sabia cozinhar como ninguém ,e isso era o cheiro que despertava a
inveja daquelas que só sabiam ovos cozinhar .
E os pratos de canjica
estavam todos espalhados na mesa , as palhas do milho na chão , o
bagaço era dos pintos , e nós brigávamos para raspar a panela , é para
raspar a panela pois era nela que estava o melhor daquela manhã .
E
assim ela nos criou para a vida , e a vida veio a vida foi e a vida
ainda esta indo ,e agora ela mudou de lado , tem quem faça aquela
canjica , com o mesmo sabor e encanto , mas ela mudou de canto , e agora
raspa o melhor , volta a ser aquelas belas meninas e se lembra de seus
meninos fortes .
E ainda insiste em viver .
Adriana Noronha
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Alguém que já sentou na lua.