sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Mãe
No dia em que for uma mãe
Quero ser sempre filha
Quero ser branda
Quero reaprender
No dia que for uma mãe
Não serei mais demente
Serei criativa
Alegre,por fora,mas alegre
No dia que eu me for
Por perto ficarei
Não chorarei
Talvez me alegre
No dia que eu não me for
Que meus filhos saibam que os amei
Que mal não quis,talvez tenha feito
Tentei ser só uma mãe
Mas não tenho coração
Uma escrota que não escuta
Não era gente ,só quis ser eu
Esqueci de ser apenas mãe .
Adriana Noronha
A todas que não são mães,com eu...

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Castanha de caju


Lá no Benfica,
naquele pedaço de mundo encantado,
o dia amanhecia quente
e a meninada saia da rede
sorrateiramente .
Corria ao quintal e lá nos esperava,
o frondoso cajueiro,
pintado nas cores da felicidade .
O Locinha subia e balançava os galhos e derrubava os cajus ,
sem querer , mas querendo
em cima de nossas cabeças ...
E nos fartávamos de caju até inchar a barriga .
As castanhas eram nosso maior legado,
e na chapa de ferro,
viravam brasas gigantes,
incandescentes em nossa fogueira pueril,
mexia pra lá ,
mexia pra cá ,
o fogo pulava,
e a gente pulava na mesma cadência,
para se esquivar do óleo quente.
Saltita pra não se queimar .
Gritava o Locinha...
E dançávamos ao redor do fogo,
antes da degustação.
Castanha assada, areia nela ...
E assim nossa vida fluía,
e a criançada ficava,
toda emborralhada,
por causa da castanha queimada .
Mãos pretas ,
caras pretas ,
dentes pretos
e nossa vida muito ,
muito colorida .
Lá no Benfica,
naquele pedaço,
de mundo,
encantado...
Adriana Noronha

terça-feira, 7 de novembro de 2017

"Tudo outra vez"
Eu vi a minha casa no chão, a casa em que cresci , cheguei tarde e não deu tempo de pegar um pedaço sequer do reboco ou um caco de telha ela ruiu,não achei nada mais não.
Onde ficaram as panelas ,
as cadeiras ,o baú , 
os livros e a nossa Enciclopédia,
e as minhas bonecas de pano ,
a lata da farinha, do feijão ,
o fogão,
e a mesa gigante onde a mamãe nos serviu o leite e o pão ,
o pé de jambo ,
o cajueiro,
os pés de coqueiros que sustentavam as roupas no nosso imenso varal ?
Meu Deus, cadê eu e meus irmãos !
Senti um calafrio e calei , mas queria mesmo era gritar,berrar.
Então só fiz chorar, e minha ausência lamentar.
Um algoz chamado progresso engoliu vorazmente um micro mundo em beneficio do mundo macro .
Mas posso reconstruir tudo outra vez ,
a algaravia e as arengas da meninada,
o cheiro delicioso que vinha da cozinha,
os latidos misturados aos miados ,
ouvir Can't take my eyes off you na radiola,
ver o florescer das papoulas,
subir e arrancar as frutas das arvores ,
ouvir o som do sino da igreja .
As brincadeiras de roda ,
as estórias de terror contadas no escuro do quintal ,
a vela acesa dentro da lata ,
o balanço no cajueiro indo e vindo ,
o coral do ronco de todos a dormir ,
o terço gigante pendurado na parede ,
o presépio, a arvore enfeitada com algodão.
E o melhor de tudo andar pela nossa casa de paredes alvas e cheias de desenhos infantis pueris ,
,roubar as garrafas de cajuína que curtiam no telhado,
entrar pelas portas sem ferrolhos pois nada ficava trancado.
Eu fecho os olhos e colho tudo de bom que lá existiu ,
felicidade assim nunca se viu ,
minha vida não se perdeu e tudo que vivi foi o que valeu ,
eu começaria tudo outra vez ...
Adriana Noronha .