terça-feira, 7 de novembro de 2017

"Tudo outra vez"
Eu vi a minha casa no chão, a casa em que cresci , cheguei tarde e não deu tempo de pegar um pedaço sequer do reboco ou um caco de telha ela ruiu,não achei nada mais não.
Onde ficaram as panelas ,
as cadeiras ,o baú , 
os livros e a nossa Enciclopédia,
e as minhas bonecas de pano ,
a lata da farinha, do feijão ,
o fogão,
e a mesa gigante onde a mamãe nos serviu o leite e o pão ,
o pé de jambo ,
o cajueiro,
os pés de coqueiros que sustentavam as roupas no nosso imenso varal ?
Meu Deus, cadê eu e meus irmãos !
Senti um calafrio e calei , mas queria mesmo era gritar,berrar.
Então só fiz chorar, e minha ausência lamentar.
Um algoz chamado progresso engoliu vorazmente um micro mundo em beneficio do mundo macro .
Mas posso reconstruir tudo outra vez ,
a algaravia e as arengas da meninada,
o cheiro delicioso que vinha da cozinha,
os latidos misturados aos miados ,
ouvir Can't take my eyes off you na radiola,
ver o florescer das papoulas,
subir e arrancar as frutas das arvores ,
ouvir o som do sino da igreja .
As brincadeiras de roda ,
as estórias de terror contadas no escuro do quintal ,
a vela acesa dentro da lata ,
o balanço no cajueiro indo e vindo ,
o coral do ronco de todos a dormir ,
o terço gigante pendurado na parede ,
o presépio, a arvore enfeitada com algodão.
E o melhor de tudo andar pela nossa casa de paredes alvas e cheias de desenhos infantis pueris ,
,roubar as garrafas de cajuína que curtiam no telhado,
entrar pelas portas sem ferrolhos pois nada ficava trancado.
Eu fecho os olhos e colho tudo de bom que lá existiu ,
felicidade assim nunca se viu ,
minha vida não se perdeu e tudo que vivi foi o que valeu ,
eu começaria tudo outra vez ...
Adriana Noronha .

Um comentário:

Alguém que já sentou na lua.