segunda-feira, 30 de outubro de 2017



Vestida de Maria


Foi uma vez num sonho que:
Certo dia me vesti de Maria.
Naquele tão famoso vestido de mescla azul, de debrun preto e botões forrados, pela primogênita confeccionado...
Sorrateiramente o roubei, do fundo daquele guarda roupas antigo,do antigo guarda roupas.
Me despi de mim.
E quis ser aquela, a mãe megera.
Senti no ar seu perfume de talco, misturado ao sabonete Viol,aquele da caixinha de madeira!
Procurei ser como ela, de toda maneira.
E saí a caminhar em passos pesados pelo quintal encantado, passos pesados da vida dura, impura,imatura.
O céu escureceu, a Lua não apareceu, o som emudeceu, o tempo cessou, a luz apagou, meu coração chorou ...
A sua vara me apoiou, consegui chegar onde nunca pude estar,
lá no meu antigo lar.
lar longe de mim,
lar pra que te quero .
Não ouvi sua voz,
descobri que agora seu corpo agora jaz.
E de novo acordei no mundo dos mortos vivos, e fui capengando até meu mundo escondido.
E naquele dia que me vesti de Maria,
descobri que sou órfã de pai e principalmente de mãe, órfã de irmão e órfã de irmãs, órfã de filhos e filhas, apenas órfã.
No mundo sem uma mãe, nada possuímos, por mais ruim que ela fosse,ou por mais ruim que eu seja,vou viver sempre nessa peleja.
De deitar, tentar sonhar, e de novo ver a Maria.
E se algum dia, em outra esfera da vida, te reencontrar, deixa eu te amar, amar além da vida, além de mim , te amar além da lenda, de pensar que pude um dia te odiar.
Deixar eu apenas pensar que um dia talvez eu volte a te contemplar...
Mas enquanto isso ,vou me vestindo de Maria,naquele tão famoso vestido de mescla azul,de debrun preto e botões forrados,pela primogênita confeccionado .
Nada mais existe naquele quintal encantado, o desencanto chegou lá, e se por acaso eu morrer, pode me enterrar em qualquer lugar.
Que pra casa saberei voltar .

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Alguém que já sentou na lua.