terça-feira, 23 de janeiro de 2018

De vez em quando, ela foge do Mundo em que vive.
E em seus sonhos volta ao Mundo das boas coisas das boas coisas.
E em seus sonhos, consegue fugir daquele lugar dantesco,
se afasta de gente de baixa estatura,e de grande prepotência,
sai de perto daquela criatura que anda no escuro da noite escura...
De cima do muro vê.
As arvores cheias de doces frutos,
o amanhecer cheio de vozes macias, risos espontâneos,
o som do trem ao longe,o chit chit da panela de pressão,
cozinhando o feijão, o cheiro do café atravessando a rua,
o vuco vuco da meninada,o gosto da goiabada, o pão quente,
a mesa gigante cheia de gente, cheia de vida, cheia de encanto.
De vez em quando ela foge do Mundo em que vive.
Um lugar inóspito que mais parece um grande Hospício, sem mar, sem flores, cheio de muitos ardores, gente que finge que não finge, gente demente, que diz a verdade mas somente, mente.
E ainda existe aquela asquerosa criatura, criatura ambulante de passos terrivelmente macios e silenciosos, na escuridão da infinita noite, noite de terror, noites de horror...
De vez em quando ela foge do Mundo em que vive.
Numa noite ela avistou um cavaleiro num cavalo alado, que à luz da Lua, ficou levemente prateado.
Estaria a menina sonhando ou sonhando estaria ?
E ele a olhou, e por ela se enamorou, e aquele lugar, se tornou mais fácil de viver, mais fácil de vencer o mal, de se sentir que ela podia ser a tal, e tal e qual foram vivendo,e a vida florescendo e o amor crescendo.
Mas nada no Mundo é perfeito, e de vez em quando ela foge do Mundo em que vive, e vai viver sua feliz vida de criança.
Vociferando

Foi assim que ele a viu...
No fogo do coração cheio de ódio,
foi assim que seu rebento a viu.
No fogo do coração cheio de ódio,
ele não viu a mãe,
ele viu uma hedionda criatura
viu seu algoz,viu aquela do útero farpado,
viu aquela do leite envenenado,
ele viu o mal..
E com seus olhos cheios de fogo
olhou a bestial criatura,
e se benzeu.
Se benzeu três vezes,três vezes se benzeu.
e a Deus, da Belzebu, pediu proteção.
E a hedionda criatura saiu, fugiu
teve medo daquele coração cheio de ódio,
e se encheu de dor, a dor do amor,
do amor unilateral...
O de coração cheio de ódio,atira todas as pedras,
atira todas as lanças, atira todas as ferinas palavras,
e atira a mãe num poço imundo e profundo.
O de coração cheio de ódio, é perfeitamente perfeito
criatura magnânima, um anjo de candura,
uma criatura de alma pura.
Quando ele a olhou,se benzeu três vezes,
três vezes se benzeu,
aquele olhar cheio de ódio,não viu a mãe
viu a Besta Fera.
Ela se olhou no espelho.
E se indagou !
Sou eu mesma,a própria Besta ?
Sou eu mesma ?
Ou sou ela ?
A Besta Fera!

domingo, 7 de janeiro de 2018

Ah ! Essa fase chamada adolescência,tudo podemos fazer, mas não devemos fazer tudo, pelo menos nos meus tempos,nos tempos bons, antes de ser banida para o sem fim.
O Colégio era de freiras, as meninas eram talvez de Saturno, estavam sempre longe dos números primos, mitocôndrias, Era Vargas, Império Romano,Orações coordenadas assindéticas, to be verbs, tabela periódicas dos elementos, a Terra ainda era plana, educação física, educação moral e cívica e outras coisas que eram deglutidas nas aulas de música, artesanato, culinária...
O Mundo era mais bonito ,mais calmo, o mundo era mais mundo, nossas fardas impecáveis, o sapato de boneca em alvas meias brancas,o vuco vuco, o entre e sai,intervalo,um cigarro secreto, só pra transgredir as Leis... Tragar era horrível.
Não emplacou, não gostei de fumar, virei vigia, e assim merendava com fartura...
Então o Fagner ia fazer um Show no PV, a megera não deixou. De jeito nenhum.
Os irmãos mais velhos poderiam custear, mas corriam risco de pena de morte,nada feito.
Minhas amigas da classe, rebelaram-se.
Nós vamos !
Vamos ?
Aham...
E a gaita, grana, dinheiro ,bufunfa, money,dindim ?
Então combinamos,e no dia,dormimos cedo.
Já ! Admiram-se.
Saímos na surdina da noite, cada uma com sua merenda,drops,pirulitos,jujubas, amendoim, Coca Cola, calça LEE, blusa de renda, All Star, e nenhum dinheiro no bolso,o PV
ficava a dois quarteirões de minha casa, eu morava na nata do bairro mais boêmio o Benfica, e nós fomos ao Show.
E lá chegando nos sentamos na calçada, com as costas no muro da Escola Técnica Federal, tudo lotado, gente chegando, gente,gente muita gente.
Então ouvimos o primeiro acorde de Noturno.
Ai meu Deus !
Talvez fôssemos as fãs mais felizes,daquele Show,lá na década de 80, "são tantas ilusões perdidas na lembrança" .
Nove noviças, ali sentadas no chão, cheias de vida,sem maldade no coração, somente a ouvir as canções daquele que tinha um coração alado, que nem os nossos corações.
Os refletores não nos iluminou,mas tínhamos um subterfúgio mais poderoso, a Lua que brilhava acima de nossas cabeças ocas, mas cheias de sonhos.
" Hoje só acredito no pulsar de minhas veias "
O melhor Show que já assisti, aliás o melhor Show que já ouvi.

sábado, 6 de janeiro de 2018

As mulheres mais prendadas que conheci, eram louras ,ruivas, morenas, filhas da Justa Amélia, que de Amélia não tinha nada...
Ela dominava um dragão alvo de olhos azuis, e assim suas fêmeas seguiram seu exemplo. 
Cinco filhas, Maria Eunice a mais exuberante,mas não pariu uma menina, suas prendas morreram com ela, Maria Luíza a de doce coração, pariu duas meninas, que herdaram seus dotes , Maria do Carmo morena bela, mas nasceu seca,não pariu mas ajudou e também criou todos os sobrinhos e sobrinhas, Maria Justa a ovelha negra, pariu cinco todas prendadíssimas, dentro as cinco também uma ovelhinha negra,Maria Augusta,branda e mansa, pariu cinco,e dentre as cinco uma deusa, todas prendadas...
Mulheres Noronha, sabem lavar, passar, cozinhar,costurar sabem bordar...
E elas veem tecendo sua trilha,
elas amam,
dominam,
domam,
encantam
brigam,
subjugam
as vezes são audaciosas,
ajeitam daqui, dali,
são orgulhosas,
inteligentes,
algumas sábias,
outras muito cultas
amam,
são amadas,
também tem rancores, pois nem tudo são flores...
Mas todas são perfeitas,
aos olhos de Deus,
aos nossos olhos são tudo isso,
e mais um pouco.
mais um pouco de amor
pra todas nós.
" É uma pena quando se tem interferência de alguém. 
De um lado o amor. 
Do outro a paixão. 
No meio a indecisão. 
Na cabeça a confusão.
Paixão que vira amor, amor que vira passado,
passado que foi presente,
presente que virou passado.
Sem saber sair dessa, permaneço aqui,
sem saber sair também.
Não tenho conclusão,
porque a conclusão ainda não foi concluída.
E esse tempo que não passa,
não passa porque o fiz parar,
mas ele corre tão depressa
e eu ando muito devagar.
A vida que imita a arte,
a arte que imita a vida.
O céu azul, tão azul quanto o mar,
o mar tão infinito,
tão infinito quanto o céu.
Você prefere
o mar
ou prefere
o céu ? "
 

Raquel Noronha