quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Fortaleza minha

Meu sonho é voltar pra casa ...
Mas onde ela esta ?
Ali na Carapinima, lá no Benfica,mais precisamente em Fortaleza, no meu Ceará...
Eu andaria pelo trilho com meus irmãos e irmãs , subiria novamente naquele gigante
vermelho , chamado trem, que saía do AtarBonfim, iria pra Maracanaú, e naquela cadência das rodas de ferro nos trilhos, embalaria de novo meus bons momentos de menina feliz,ao chegar lá.
Pularia do trem, e cairia de novo , tentando imitar meus irmãos ao chegar
à estação .
E ao chegar ao portão de minha casa, viria os meus irmãos e irmãs , a velha placa da oficina , O Chico Brasil , ainda estaria a balançar junto com o vento ...
Minha bicicleta estaria a me esperar , para as ruas asfaltadas mais distantes desbravar , e ir direto ao mar , amar o mar o meu verde mar ...
Mergulharia naquelas brancas ondas , sentiria de novo o calor intenso , e
a minha pele bronzear .
E lá na escola , desfilaria feliz com meu sapato de boneca preto e brilhante ornado de meias alvinhas, diante de minhas arqui inimigas , e vigiaria as amigas fumando durante o recreio, em cima do pé de jambo .
Abraçaria a própria irmã Ana Maria.
Ela era mesmo uma megera, ou eu é que seria a fera ?
Ah ! Acho que não , eu só era , feliz ...
Me escondia atrás do piano , fazia xixi na piscina ,na sala de aula me concentrava só quando precisava, no ginásio jogar, mas se queria me salvar , era na capela que ia orar , só Deus e eu .
Na volta pra casa Imperador sentido Carapinima, o trânsito fervia e fluía,sempre na bicicleta de cestinha Jeans,as vezes um assobio, um transeunte falava gostooosa, um carro ou outro buzinava, e as vezes um carro parava e deixava eu seguir...
E lá em casa, me esperava o melhor feijão, carne de primeira, arroz com cenoura,macarrão ao alho e óleo e suco da fruta da goiabeira .
Minha mãe alegre e satisfeita olhando todos os bons frutos da sua colheita, chegando um por um,do preferido ao caçula.
E aquele cheiro do Cubano que saía da caixa de madeira e ia relaxar o Brasil , o Seu Brasil ,o papai, que após o almoço tirava um cochilo em sua cadeira de couro e madeira ...
Meu sonho é voltar pra casa
Mas ela não esta mais lá .
O tempo passou , uma brisa a levou , e com a brisa se foram os tempos de paz,
se foram todos , todos .
Se foram nós .
E o que foi uma vez uma vida ...
Transformou-se numa aventura, de atravessar fronteiras e talvez lá não chegar,por conta da maldade humana, que nos priva de voltarmos ao nosso encantado lugar.
Devolvam o meu Ceará.
Tirem das trevas a Terra da Luz.

Adriana Noronha



quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Balanço

Onde mora a felicidade ?
A minha morava ali naquele quintal encantado, naquela
arvore gigante ...
Você já abraçou uma arvore ?
Nao !
Te chamariam de louco , maluco , doido mesmo .
Mas num belo dia ao acordar nosso cajueiro estava enfeitado com
um lindo balanço !
Ah !
E no balanço uma rosa Dália lilás , olhei ao redor ninguém,
ninguém mesmo ...
Mas sabia que era obra do papai ,do Seu Brasil, pois no laço da corda fornida,havia uma marquinha da graxa de suas mãos , mãos que entortava ferros ...
Mas que moldava também sonhos ...
Um balanço com uma sobra da madeira da serraria do Seu Oliveira, quase nosso vizinho, quatro furos feitos na pua, acho naquele tempo não existia serra circular,lixado no capricho...
Sentei-me , ajustei-me ,olhei pra cima e os cajús encarnados exalavam seu cheiro mágico.
Tirei meus pés do chão , e fui , fui,
fui ao mais alto de mim ...
E encostava meus dedos dos pés nas nuvens , voltava , ia de novo , vinha
voltava , ia de novo ...
E assim esquecia que o Mundo existia , envergava meu corpo para trás até sentir meus cabelos arranhando a areia do nosso quintal no Benfica.
E as nuvens passavam , a Lua vinha , o Sol alegrava e energizava
aquele lugar ...
Mas um dia veio a noite , adormeci e acordei no mundo de gigantes ,
chamados adultos , eu era um deles , e crescera ...
E os ventos vieram , misturaram tudo , e mudaram as cores do lugar ,
então parei de embalar meus sonhos ...
Mas fui feliz , e minhas lembranças me levam onde sempre estive ,
perto das nuvens !
Perto de mim e mais perto ainda de um pai que
falava pouco , mas fazia muito ...
Fazia muito e falava pouco ...
E para voltar àquele encantado lugar.
Deito na rede, e assim sonho, o sonho bom que foi viver lá...
o sonho bom de sonhar.
O sonho bom de ser menina lá na Carapinima...

Adriana Noronha