sexta-feira, 29 de março de 2019

Catedral de Fortaleza

O Sol nascia inspiradamente quente lá na Carapinima, o seu Brasil pegava sua Monark Barra Forte e saia cedinho para comprar o pão na Bodega do seu João, e trazia também o leite Betânia, a manteiga Itacolomy, e de quebra comprava seus charutos, e a mamãe já de pé aprontava o café Mellita, o xitixiti da panela de pressão espalhava o cheiro do feijão cheio de linguiça e bacon pela vizinhança, e sua prole de treze filhos e filhas ia despertando para o vuco vuco de nossa doce vida, na capital Alencarina, uma mesa farta de comida e de gente, gente pequena e gente grande, moças bonitas,rapazes robustos, e as crianças que já iam sozinhas pra escola de ônibus...
Eu pegava o Parangaba Aldeota que vinha pela João Pessoa, atravessava a Padre Cícero e já era a Avenida da Universidade, seguia pela General Sampaio, e eu tentava passar rapidamente por baixo da roleta, o trocador só piscava o olho, e ia para a frente do ônibus, para ver a famosa Catedral que estava sendo construída, eitha era E-N-O-R-M-E, minha escolinha ficava dentro do Colégio Militar de Fortaleza, Escolas Reunidas General Tibúrcio Cavalcante, e passava a manhã com a Tia Isaíla, ao Meio dia pegava de novo o Parangaba Aldeota na Costa Barros e ele descia pelo Passo Municipal, circulando de novo a Catedral, e eu de novo observava o movimento dos homens naquela mão de obra sagrada.
O ano era mil novecentos e setenta e dois, eu com nove anos, ouvi de uma moça chamada Pretinha, que veio de Caridade trabalhar lá em casa, que a Catedral nunca ficaria pronta, eu em minha pouca idade fiquei intrigada com aquele comentário.
E na minha labuta diária de ir e vir da escolinha, observava o progresso daquela construção dia a dia, e a torre começava a erguer-se,terminei o primário, e fui pro São Rafael lá na Imperador, perto de casa, ia à pé, mas à tarde fazia natação lá no BNB Clube com a Rita Gaspar Bezerra de Menezes, filha do Seu Valdemar e Dona Clotilde, namorada de meu irmão mais velho,e de novo pegava o Parangaba Aldeota e podia observar a Catedral sendo erguida, tijolo a tijolo.
E os anos foram se passando.
Pretinha a catedral vai ser concluída.
E ela respondeu - Pode ser, mas no dia de sua inauguração sairá de lá uma besta fera !
E eu sempre ali na frente do ônibus que circulava por inteiro a Sé, e nem notei que já era uma moça com meus 1,75 e com quinze anos, então o Nazareno anunciou a inauguração da Catedral de Fortaleza. Eitha !
E eu vou, e fui, e foram também todos os Fortalezenses, Dom Aloízio e todo o clero cearense, e eu lá no meio do povo de fé, entre Ave Marias e Pai Nossos, a fé do cearense aumentou e de lá não saiu a besta fera, e a historinha que ouvi quando criança, não se concretizou.
E no ano de mil novecentos e setenta e oito no dia dezoito de dezembro inaugurou-se a Catedral de Estilo Neo Gótico, com seus vitrais multicoloridos, e muito espaço para aumentar nossa fé em templos e tempos melhores.



Adriana Noronha

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Alguém que já sentou na lua.