sábado, 24 de novembro de 2012

Alma de Homem

      Conheci uma menina que teve tudo de bom que a vida possui , tudo em sua vida era grande ,tinha uma família , tamanho família , era a decima terceira numa fila de quatorze irmãos , sua casa enorme , seu quintal imenso , o colégio colossal , a mesa , as panelas ,os pratos eram tachos , até seu porco Barroso ficou enorme . Mas um dia ela cresceu , aos doze ainda não sabia ,o que era ficar moça , 
para ela aquilo foi uma tragédia , e chorou mas por perto tinha a Regina Lúcia que com muito cuidado e carinho lhe mostrou que aquele sangue era a transformação , e foi mesmo .


       Até seu professor Lincon amigo da família apaixonou-se por ela , também aos doze parecia dezoito , fato que lhe rendeu uma surra da megera mãe ,pois ele falou com a megera antes de falar com a moça , a surra deveria ter sido nele falou o primogênito seu protetor . E assim a adolescência começou , o primeiro namorado aos treze , Abel , lindo olhos caramelo moreno esguio e para alegria da megera , carioca da gema , pipocas cinema e a natação , mas ele respeitou tanto sua timidez que desistiu quando ela não soube responder ao primeiro beijo e se foi , deixando-a desiludida com o primeiro amor , foi melhor mesmo era muito rico e tinha uma família muito moderna , também vieram lá do Rio de Janeiro ...
      No colégio só para meninas ,quem as salvava eram os cadetes dos colégios militares ,adorava São João , e naquele ano um aspirante lindo moreno escuro , para não falar mestiço , nego , filho de preto com branca , apaixonou-se pela menina que crescera e aparecera , conseguiu até chamar a megera de sogra , um palpite infeliz , seu erro , ela cresceu os olhos e a vigilância , ficava difícil de manha no colégio , a tarde no Centro de Cultura Britânica , das dezessete ás vinte horas natação , aos sábados com as Bandeirantes , no sábado a noite no Gresse , mas com quase todos os irmãos , e ele lá infiltrado bastavam olhares para expressar aquele amor , Ah mas tinha o Domingo praia , ondas , sol , mar , picolés e muitas braçadas , e de vez em quando um beijo .
Mas de novo a megera atrapalhou , numa bela noite de sábado ele veio a seu pai , mas quem imperava era ela , um quase negro não servia pra sua filha , nossos passeios na Leão do Sul , pastel e caldo de cana , o filme Rambo , as missas na Nossa Senhora de Fátima , as feirinhas de artesanato as festas no Colégio São Rafael com a Farda de Gala e a pureza respeitada pelo belo rapaz que desistiu da moça ,ele não suportou o desprezo da megera , de novo o coração sofreu , ela o esperava todos os dias e sempre ia aos seus lugares mágicos , mas ele nunca mais voltou .
      Ela vinha de uma família de atletas e foi fundo na sua dor , e nadou , nadou e derrotou a melhor , meia piscina de diferença , para seu irmão primogênito  o maior orgulho para ela o consolo , a zebra , o acaso , ali estava afogando sua maior mágoa , era duro ser só adolescente e nunca ter virado gente .
      E de novo a megera agiu , mandando ela pra Bahia , e como num encanto lá longe naquele recanto , um rapaz que usava também uma bela farda , ornada de estrelas e confeccionada de couro , um chapéu diferente , entrava na mata fechada , enfrentava os espinhos de juazeiro , braúna , unha de gato , quixabeira , macambira e derrubava o boi , aquele vaqueiro de cabelos dourados , corpo de Apolo e olhar encantado consegui preencher o coração daquela moça que aprendeu a gostar e valorizar o que nunca conhecera na vida , o amor de um adolescente que tinha alma de HOMEM .





Adriana Noronha .

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Vi ontem um bicho

Na imundice do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa;

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Rio, 27 de dezembro de 1947


Manoel Bandeira , retratando o futuro do mundo , ou melhor  profetizando.
Coisas certas

Enquanto todos dormem , eu tento fugir do mundo real e ser eu mesma , tenho muitos sonhos , mas eles são só meus , e não tem significado nenhum para mais ninguém . 
É difícil estar no meio das pessoas , e ter que ser como elas são , a maioria age como meros irracionais ou são racionais demais , e tem aqueles que só agem pelo instinto .
As crianças são transformadas em adultos antes da hora , se sã
o meninas usam sutian sem ter aos menos peito , então engravidam aos dez , doze e nem sequer terminaram de crescer .
Os meninos tem que provar que puxaram ao papai , que os soltam às ruas e noites sombrias .
As mulheres tornam-se produto de consumo e algumas amargam a sina de não serem nada , almejam um lugar de esposa ,que nunca será delas .
Os homens esses sim pensam que tem o poder , mas são dominados por algo tão sutil , a alma feminina é maquiavélica e astuciosa .
E assim o mundo gira em torno de nada e não caminha para evolução nenhuma , a humanidade degrada-se cada dia que passa , e com dizem os crentes só os justos terão salvação .
Porém nos meus sonhos tudo funciona com deveria , as pessoas pensam antes de falar ou julgar , as meninas brincam de bonecas de pano , os meninos jogam bolinhas de gude , os pais são fiéis si mesmos e aos filhos .
A escola é um lugar de aprendizado e progresso , e os professores são protetores e educadores e não transgressores , nas praças há carrinhos de pipocas e crianças brincando , sendo observadas só pelos pais .
As prisões são vazias , pois todos são educados o suficiente para não precisar prevaricar , roubar , enganar , sonegar , e até prejudicar aquele que não faz negociatas e nem se curva aos desmandos .
Ai vem a chuva cai na telha me acorda e vejo que foi tudo um sonho , e que o mundo gira e temos que girar junto com ele ,mas nunca num compasso alheio as coisas certas .





Adriana Noronha .


Rezei ,rezei ,rezei 

Ontem adormeci numa cama que não era a minha , um sono enganador me derrubou , passei a mão não senti o calor de Ramirinho , mas o calor e o peso do corpo não me permitiram ir até nosso quarto , e a noite entrou em mim , não era sono era o engano .
Tudo escureceu , o lençol pesava , de repente alguém me agarrou , cravou suas unhas em meu corpo , me sufocou , gritei , grite
i , o som do meu desespero era oco ,
Me debatia desesperadamente , olhei a luz que subia pela escada , gritar não adiantou , era ele que estava ali agarrado a mim , senti seu cheiro de enxofre , ao meu redor todos dormiam o sono dos justos .
Então olhei aqueles olhos carmim e tirei forças de onde não sei , girei montei sobre ele e o asfixiei com minhas mãos apertei com tanta força que ele desistiu e sumiu .
Então acordei suada e arrepiada daquele sonho Dantesco , entrei em meu quarto e deitei no lugar mais seguro que possuo , as asas do meu amado , ele passou sua mão em meus cabelos e me aconchegou .
Perguntou-me . _ O que foi ?
Nada _ Respondi .
Então pude adormecer na certeza de sonhar meus sonhos alucinantes e encantados , mas antes rezei , rezei ,rezei e aquele inominável , de mim afastei .








Adriana Noronha .

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Olhos azuis 

Seus grandes olhos azuis , cansaram de ver as coisas ruins na Terra , e num sonho profundo embarcou , e no mais profundo mar mergulhou. Seria ela um E.T ou uma simples menina perdida entre o real e o imaginário ? 
O mistério 

da vida estava dentro de si mesma e era impossível para ela decifrá-lo .
E nas profundezas do seu mar , dominou o mais temido dos temidos , sua graça encantou o atroz , o feroz e o envolveu em seu colo sublime.
A Lua sentiu-se desprezada e mergulhou nesse mar de sonhos , para também desfrutar da beleza imaginaria daquela menina .
E as estrelas seguiram a luz da Lua e mergulharam no mar da menina , que com sua imaginação encantada fez escurecer a Terra .
E as profundezas absorveram a luz prateada e toda escuridão desapareceu .
Mas o encanto foi quebrado , quando os sinos na superfície terrestre dobraram , acordando a menina do sono profundo .
E de novo ela viu com seus olhos azuis as mazelas do mundo .


Adriana Noronha .

domingo, 18 de novembro de 2012


Menino do Rio 


Conheci de perto o menino do Rio , pelo menos um deles , pude abraçá-lo e admirar sua beleza , seus olhos confundiam-se a cor do mar . 
Ele não tinha o dragão tatuado no braço , mas sim o calor que provoca arrepio , e aqui no Nordeste ele a
dorou o verde .
Na feira livre viu um calango gigante , que na realidade era um Teiú , as ondas que viu aqui foram as de calor .
Subiu na pedra mais alta , só não pôde voar , ela não era tão alta e bonita quanto aquela em São Conrado .
O que nos uniu ? Um laço chamado familia , mas que estava muito largo , longe , esquecido , e que agora ficou estreito , eterno e rejuvenescido .
E antes do Sertão virar mar , eu sei que agora aqui tu sempre vais voltar .

Nèscios 


A minha inspiração fugiu , vaguei um pouco dentro de mim , e não achei nada , resolvi sair ao mundo , vi um filho que despreza a mãe , para cada bandido morto dois policiais , liguei a tv LED ,só vi morte no transito , um pai esqueceu um bebê no carro , o chefe daquela quadrilha de duas letras " condenado " um cara esquartejado , inundação no Sul seca no Nordeste , crise na Europa , furação nos 
EUA ...
Porém mais adiante vi tambem o homem mais poderoso do MUNDO dizendo a sua esposa " que a ama mais do que nunca " e assim , vi que a vida pode sim melhorar , vale a pena vivermos e lutarmos contra as mazelas do mundo .
Então não se esmoreça levante-se e lute contra aqueles que pensam que podem dominar , eu sou tão forte que sobrevivi a quatro anos de perseguição e agora só faltam mais dois para terminar o domínio dos NÉSCIOS .

sábado, 17 de novembro de 2012

A morte de ninguém 

Não mexe com ela que ela não está só , engole teu ódio e degusta tua amargura , tua alma penada tá pesada , teus passos te levam ao encontro daquele chamado inominável , apesar de rezares tanto.
Afinal no que te transformastes ó pobre alma , o seio da tua família secou , esqueceu o gosto do leite que amamentou , agora só o fel  é o teu alimento .
Tua imagem em nós apagou-se , é
 impossível lembrar com eras , fostes um dia criança , menino , adolescente , ensaiou ser homem mas não conseguiu , e caminha para teu destino torpe .
Pena que ela ainda te ame , mãe é assim mesmo , não consegue ver o mau , naquilo que já foi seu , mas o que é teu já tá guardado , mas não somos nós que vamos lhe dar .
Aos que morreram nossas lágrimas e saudades , pra ti o esquecimento , e o pedido que Deus tenha misericórdia de tua "alma" e que tenhas vida longa .
Não acredito que possa mudar , pois seria incapaz de ter teu oásis
mas é no oásis dela que vives , e nele representas a esterilidade do deserto , o calor que tudo seca .
Tudo que vives e mérito seu , nem o Diabo te deseja , a tua nascente secou , chuva ácida te molhou , até a Misericordiosa chorou , com chora aquela que te amamentou .











Adriana Noronha .

terça-feira, 6 de novembro de 2012


Sonhos alucinantes 


   Saí no escuro da noite enquanto todos dormiam , amarrei em meus longos cabelos um anzol feito de meus sonhos alucinantes , apertei o nó fechei os olhos e o lancei ao infinito .
   Esperei , espreitei , puxei-o com certo receio e cuidado , tinha uma leveza mágica .
   E eis que veio surgindo um mundo cheio de círculos cósmicos reluzentes transparentes , nele estava tudo que eu queria ser , um mundo cheio de coisa nenhuma , mas um mundo meu .
   Ao puxa-lo mais perto , havia a minha tão sonhada Lua , em forma de um balanço que envolveu meus longos cabelos , e nela sentei e pude sentir meu espirito correr livre .
   E na cadência do tempo que destrói tudo e tudo contém fui arrebatada desse sonho , lançada á Terra , mas trouxe comigo o anzol forjado nos meus sonhos alucinantes .


Adriana Noronha .

    
    Tudo outra vez 


    Eu vi a minha casa no chão , não deu tempo de pegar um pedaço sequer do reboco ou um caco de telha .
   Onde ficaram as panelas , cadeiras , baú , os livros , e as minhas bonecas de pano , a lata da farinha , o fogão que tanto nos serviu           o pão , o pé de jambo , o varal de nossas roupas ?
   Senti um calafrio e calei , mas queria mesmo era gritar , berrar .
    De novo um algoz chamado progresso engoliu vorazmente um micro mundo em beneficio do mundo macro .
    Mas posso reconstruir tudo outra vez , a algaravia da meninada , o cheiro da cozinha , os latidos misturados aos miados , ouvir Can't  take my eyes off you na vitrola ,o florescer das arvores , o som do sino da igreja .
    As brincadeiras de roda , as estórias contadas no escuro do quintal , a vela acesa dentro da lata , o balanço no cajueiro indo e vindo , o coral do ronco de todos a dormir , o terço gigante pendurado na parede , o presépio a arvore enfeitada com algodão .
    E o melhor de tudo nossa casa de paredes alvas e cheias de desenhos infantis , as garrafas de cajuína no telhado e as portas sem ferrolhos .
    Eu fecho os olhos e colho tudo de bom que lá existiu ,felicidade assim nunca se viu , minha vida não se perdeu e tudo que vivi foi o que valeu , COMEÇARIA TUDO OUTRA VEZ.


Adriana Noronha .