terça-feira, 6 de novembro de 2012


    
    Tudo outra vez 


    Eu vi a minha casa no chão , não deu tempo de pegar um pedaço sequer do reboco ou um caco de telha .
   Onde ficaram as panelas , cadeiras , baú , os livros , e as minhas bonecas de pano , a lata da farinha , o fogão que tanto nos serviu           o pão , o pé de jambo , o varal de nossas roupas ?
   Senti um calafrio e calei , mas queria mesmo era gritar , berrar .
    De novo um algoz chamado progresso engoliu vorazmente um micro mundo em beneficio do mundo macro .
    Mas posso reconstruir tudo outra vez , a algaravia da meninada , o cheiro da cozinha , os latidos misturados aos miados , ouvir Can't  take my eyes off you na vitrola ,o florescer das arvores , o som do sino da igreja .
    As brincadeiras de roda , as estórias contadas no escuro do quintal , a vela acesa dentro da lata , o balanço no cajueiro indo e vindo , o coral do ronco de todos a dormir , o terço gigante pendurado na parede , o presépio a arvore enfeitada com algodão .
    E o melhor de tudo nossa casa de paredes alvas e cheias de desenhos infantis , as garrafas de cajuína no telhado e as portas sem ferrolhos .
    Eu fecho os olhos e colho tudo de bom que lá existiu ,felicidade assim nunca se viu , minha vida não se perdeu e tudo que vivi foi o que valeu , COMEÇARIA TUDO OUTRA VEZ.


Adriana Noronha .

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Alguém que já sentou na lua.