terça-feira, 30 de abril de 2013





Feitiço 

Não tenho mais a quem contar minhas estorinhas de terror . 
E elas estão mofando dentro de mim .
Já tem até teias de enormes aranhas , que arranham meu coração infantil .
A caipora endireitou os pés . 
O saci tem duas pernas .
A mula achou sua cabeça .
O espantalho abandonou o milharal .
Os pássaros arribaram .
A lama secou .
A boneca que perdeu os olhos , chorou .
Não conto mais estrelas .
O Sol nem liga mais pra Lua .
E nem me visto mais de fantasma .
E o pior de tudo !
Lá na Baixa do Caixão tá tudo tranquilo , aquele caixão não atravessa mais flutuando a velha estrada ...
Os assobios noturnos cessaram .
E até o Rerold sumiu , sapo ingrato !
Todos os cachorrinhos morreram .
E o que restou não late , só me olha tristemente .
Minha inspiração eram eles .
Dois , porém , um maiorzinho e um bem mais pequeno .
O que aconteceu ?
Uma bruxa muito mais sabida que eu .
Atravessou meu caminho jogou um feitiço sobre mim .
E os fez acreditar na maior mentira que há .
E disse-lhes !
Ela é má , não vão mais lá .
E assim , apaguei a fogueira , tranquei o caldeirão encantado .
Mas nunca , nunca vou lhes fechar o meu coração alado ..
Pois o feitiço sempre volta de onde foi lançado .


Adriana Noronha 

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Alguém que já sentou na lua.