domingo, 6 de dezembro de 2015

Pessoas
Eu queria voltar pra casa .
Ser de novo aquela criança de cabelos assanhados ,
de pés descalços , cheia de vida ,cheia de sonhos .
Cheia de irmãos mais velhos ,e irmãs que pareciam
misses ...
Eu queria nunca ter saído de casa
queria nunca ter crescido .
Eu queria voltar pra casa .
Ser de novo filha do Seu Brasil , filha da Justa ,
e ver de novo nossa casa povoada de muito barulho ,
algaravia ,
confusão .
Queria ter crescido não !
Era tão bom ser somente criança ,que esperava o Natal , que acreditava não existir o Babau .
Mas o tempo veio e bum ,cresci ,
vi o Mundo real
conheci a verdadeira face do mal ,
dentro de pessoas ,
pessoas ruins ,
somente pessoas más .
Onde estão meus irmãos ?
E as irmãs onde andarão ?
Papai !
Mamãeeeeeeeee ...
Eles não ouvem ,
eles não vem ,
elas se vão .
Sei viver nesse Mundo não .
Eu quero voltar pra casa ,
e ver nossa arvore feita de algodão ,
cheias de bolas coloridas ,
coloridas de vida .
Vem
Tu deixou que me apaixonasse ...
E agora tu me deixas .
Entrou no meu peito invadiu meu surrado coração .
E agora tu me deixas .
Para quê me mostrou o amor ?
Se agora tu me deixas ...
Eu não quero ser livre .
Quero ser acorrentado em ti , numa corrente pesada e firme ,
quero estar aí , aí dentro da tua emoção .
Nosso Mundo é cheio de cores , de flores ,
de dores também ...
Eu não quero voar .
Eu não sei caminhar sozinho .
Eu ...
Eu não sou eu
Sou tu
Sou nós .
Sou sua voz .
Seu vinho .
Seu pecado .
Sou seu anjo ALADO .
Vem .
Vem .
Vem nem que seja para somente me olhar .
Nem que seja somente pra me salvar .
Salvar-me daqui .
Salvar-me de mim .
Eu quero ver o mar
o amor
ou amar ?
Vem me salvar ...

terça-feira, 3 de novembro de 2015



Irmãos em guerra


Quando somos crianças ,somos tão felizes , tão inocentes ,tão alegres
tão tudo ...
Estar apenas ao redor dos irmãos , brincando ,correndo ,malinando ,derrubando cadeiras ,fugindo do banho , mexendo nas panelas e sumindo ,reunidos à mesa , indo para a escola ,bastava para sermos felizes ...
Ah era um tempo tão bom !
Até as surras eram boas , o cipó , o chinelo , o beliscão , a cara feia ,o cinturão, o fio do ferro de engomar , a bainha graças a Deus sem o facão .
O pai dizendo .
Deixa pra lá !
De que é feito mesmo o amor ?
Aquele amor que une dois corações ,e dele surgem vários outros amores ,que chamamos irmãos .
É feito de sangue .
Mas não é o bastante para manter unidas aquelas crianças que num giro que o Mundo deu ,viraram ADULTOS ,e adormeceram dentro de seus corações as crianças que outrora foram um dia .
E num Mundo de adultos ,muros , paredes , cercas ,separam aqueles que se amavam sem medidas .
E sempre há um lado mais fraco , o lado daquele que ama mais .
E o lado daquele que ama o lucro , a ganância , a prepotência , e a arrogância de mesmo sabendo estar errado não se curva .
Daquele que esqueceu que era tão amado , tão esperado , tão admirado , que servia de exemplo , mas que mostrou um lado obtuso ,escuro , que mostrou realmente que sempre foi , é ,será ...
Então vivamos sem olhar para trás .
Vamos adiante .
Transformar as tardes tristes ,
de outros tempos
em dias vindouros cheios de nuvens carregadas de sagradas águas ,a nos banhar a tez .
Que saudade dos tempos
de menina
dos tempos de irmãos .
Irmãos em paz .
Não irmãos em guerra .

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Feliz dia das crionças

Feliz dia das crionças
 

O  Sol aparecia  às cinco horas da manhã e a Maria Justa não tinha pena de suas treze crioncinhas , e nos arrastava das redes bem cedim ..
O papai chegava junto com o Tupã, da bodega do seu João com os braços carregados de muitos pães e leite Betânia,o café exalando um cheiro forte e adocicado no ar .
Ai meu Deus, já ...
E o vucu vucu era intenso , a guerra era travada na porta do único banheiro que era enorme ,mas era só um , e não tomávamos banho juntos ,impossível ,era pecado mortal ,eis o motivo da contenda matinal .
Após a comilança todos se espalhavam rumo aos seus destinos educacionais, alguns iam pro Santo Antonio de Pádua , outros pro Liceu , as moças para a Escola Normal , o primogênito pro Colégio Militar de Fortaleza ,eu e o caçula ainda na Escolinha do 23º BC .
Nossa fardinha impecável,de anarruga quadriculada azul e branca,linda bem limpinha ,éramos dois docinhos ,dois anjinhos , perto da mamãe ...
Mas longe de seus domínios , éramos duas pestes ,e nesse dia não queríamos ir para a Escolinha .
O dia estava chuvoso.

É chuvoso !
No ceará chove ...
Pelo menos lá no litoral da nossa Fortaleza, Terra da Luz chove mesmo ,e como chove ...
Na esquina do Beco do Pecado ,na Rua Antenor Frota Wanderley tinha uma poça d'água ,e o André pensou o que eu pensei , leu meus pensamentos e me empurrou na lama , ensaiei um falso choro .
Burra, me empurra também ,assim não vamos pra Escolinha !

Então empurrei ele, com gosto de vingança, e lá estávamos enlameados...
E assim voltamos chorando pra casa .
Chorando saltitantes de alegria .
E a mamãe ficou irada com o motorista do ônibus do Itaoca, que nos deu esse banho de lama .
Cabra ruim que molhou os bichim ,amanhã espero ele no ponto ...
E amanhã será outra história .

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

As vezes me admiro , mas, na maioria das vezes , me assombro ....
De repente uma nuvem veio
os céus tornaram-se densos
os ventos revolveram-se frenéticos .
A brisa parou
o ar cessou
o mar secou .
O Mundo calou
a chuva cessou
a seca acordou ...
Ouviu-se um choro
um novo rebento
nasceu ao relento ...
De repente outra nuvem tornou
os céus tornaram-se calmos
os ventos abrandaram
A brisa refrescou-se
o ar fluiu
o mar ondulou .
O Mundo sorriu
a chuva voltou
a seca parou .
Ouviu-se um canto
um novo rebento
abençoado nasceu .
Mas um cavalo alado
o levou para longe
para um mundo
feito de cores
Um
mundo
sem
dores ...


Adriana Noronha

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Lanterna
Uma sombra na noite , queria desfazer o melhor dos seus sonhos , vinha sorrateira,com passos macios e silenciosos .
Mas seu coração de menina sentiu a frieza daquela alma lodosa , um ser asqueroso e sádico .
Mas ela ensinou-lhe .
Fique sempre alerta .
Butando sentido em tudo ao seu redor .
Olhando sempre dentro do olho do inimigo .
E assim ela foi .
Fui sem querer .
Amarrada ,angustiada ...
E viu a sua minha vida sumir ,ao longo do asfalto frio ,e girou em volta de si tudo que possuía e naquele momento perdia .
teve uma infância feliz ,e via sua adolescência travar , mudar , girar e surgir em outro lugar .
Ah suas noites ...
Em seus sonhos sempre voltava ao Lar
Que ora seria Lar longe dali
Que estava longe, longe , infinitamente distante .
Reconheceu o mal assim que o vi , sentiu o abalar dos joelhos ,um olhar maldoso ,um maldoso olhar ,que só ela, sabia existir .
Longe da proteção fraterna ,
tornou-se lanterna ,
sempre acessa ,
nunca no escuro ...
De dia se esquivava ,à noite vigiava .
E assim foi .
Até que num cavalo alado , lhe foi enviado aquele que tinha a missão de lhe proteger .
E suas noites se iluminaram ao clarão da Lua.
Sob as assa da proteção daquele que chegou ,
montado no cavalo alado .
Sua alma é livre , dorme sossegada e até flutua .
Adriana Noronha

sexta-feira, 21 de agosto de 2015


Lápis 

Acordo no meio da noite
e saio perambulando pela casa , tudo é silêncio ,tudo é paz ...
Entro nas alcovas do primogênito e do caçula ,dois irmãos quase iguais e tão diferentes .
Um quarto metódico com tudo arrumado ,outro com tudo revirado ,embolado , gavetas no chão ,cama por fazer ...
E eis que vejo pontas de lápis , que foram manuseados pelos dois , vislumbro os sonhos e anseios desenhados à grafite .
E a noite adentra na escuridão da alma ,
na escuridão de minha densa saudade ,
respiro o gelo da brisa noturna
que adormece as emoções,
e as canções de ninar .
São apenas pedaços esquecidos de lápis , pedaços esquecidos de vida , pedaços de arte , de sorte , de sonhos riscados num branco papel , que o tempo tornou pardo .
E assim são minhas noites , perambulando pelos corredores antes alegres, cheios de vida e de desenhos pueris nas paredes brancas .
Porém os desenhos feitos por esses lápis esquecidos , são agora do Mundo
são eternizados por uma coisa chamada ARTE .
E eu estarei aqui esperando ,orando, esperando, orando ...
Já amanheceu a Lua se escondeu , agora será somente eu e a multidão diurna que me envolve ,mas não me absorve .
Espero por outra noite,
para perambular pela casa ,
onde tudo é silêncio
tudo é paz .

quarta-feira, 1 de julho de 2015



Mundinho meu


Não devo insistir em sair do meu mundinho ,
em sair de perto de mim .
Só me deu aquela saudade apertada ,bem apertada ,
uma saudade quase insana .
Então eu fui , me lancei ao vento e fui , fui alegre e
saltitante , fui tão feliz , tão , tão ... Ah .
Atravessei rios e mares , caminhos negros e esburacados
até me perdi , depois me achei ,mas me perdi .
Meu coração pulsava , fervia , pulsava, fervia , voava ,voava ,
sorria , sorria .
Eu ao ter ver me alegrei .
Mas a recíproca não foi verdadeira ...
Não me avisastes .
O que fazes aqui ?
Odeio surpresas ...
E deu-me um beijo emprestado de Judas .
Desmanchei-me no ar .
Minha alma calou .
O coração parou .
O sorriso cessou .
Descobri que nada sou
Eu nada fui .
Eu nada serei ...
Então me fui .
Voltei vazia .
Meu coração não pulsava, não fervia ,não voava ,não sorria...
Então voltei ao meu mundinho
e voltei pra perto de mim .

terça-feira, 23 de junho de 2015

Panela
E ela levanta-se junto como o Sol
acendia o fogão , e a vida recomeçava do mesmo jeito .
O leite fervendo , o aroma do café espalhando-se pela casa , a manteiga Itacolomy , e muitos , muitos pães , a porcelana que o Rogério presenteou 
cheia de laços de fita cor de rosa .
E a meninada acordava-se com o arrastar das sandálias do papai , ou com o cheiro de seu cubano roliço .
O enorme banheiro congestionava , bem que poderia ser dois , corre-corre ,rebuliço , relógio ...
E ela cozinhando e cantando , " Por que não páras relóóóógio "
E assim foi a minha , a nossa vida , por anos sem fim .
E a panela de arroz , que ao meio dia ficava sequinha , vazia , quase lambida , éramos só treze , treze bocas ,treze cabeças , treze filhos ,cinco filhas oito filhos treze , treze .
Mas o relógio não parou .
O relógio carrilhão não parou .
E a vida veio , a vida foi , a vida não retornou .
O maldito relógio não obedeceu .
Por que não parou relógio infame ?
Ela se foi , ela se foi , ao último som das badaladas do relógio do tempo , e o tempo não parou e nem olhou para trás .
E a panela que um dia foi dela ?
A panela que foi nossa ...
Agora é minha .
E eu vou levantar junto com o Sol .
Vou acender o fogão e vou recomeçar a vida do mesmo jeito .
O leite fervendo , o aroma do café espalhando-se pela casa , a manteiga Itacolomy , e muitos , muitos pães ...
E assim será , assim foi e assim tornará a ser .
Serei ela ,serei eu serei nós .



quinta-feira, 11 de junho de 2015

Grená
Por quais mares mergulho minhas saudades ?
Estou a emergir das profundezas de mim ou submergindo da vastidão
inóspita de minha alma?
E essa abóboda negra que cobre os sonhos meus ?
Serei eu louca ?
Pergunta retórica ...
Um dia eu vou voltar , e vou achar tudo que me foi tirado , e a ira daquele dia irado vou esquecer ...
Não foi eu ,não foi voce ,foi o Mundo. toda culpa é de todo mundo , um mundo sem fundo, imundo mundo .
O céu é tão longe , tão infinitamente distante ,fora do alcance de meus sonhos
dantescos ,
cheios de flores sem espinhos ,
de flores sem cores .
Por quais mares mergulho minhas saudades ?
Eu mergulhei ?
Ou fui empurrada ?
Não importa , pois atravessei a porta ,minha alma transcende e acende minha vontade de ir ...
Ou de vir ?
Levo comigo a Lua .
Posso perambular nas ruas de minha mente torpe .
De minha mente que não diz a verdade .
Os dias passarão , as noites virão , o frio do crepúsculo vai amaciar minha dor , minha dor de cor grená .


domingo, 24 de maio de 2015


Estação da escuridão 

A estação não é das flores .
A estação é dos egos .
A estação é dos indivíduos cegos .
É a estação do pouco caso , da ausência, da coletiva demência ...
A estação dos que não leem dos que sequer escrevem uma linha .
É a estação daqueles que apenas passam , 
não vão, 
não voltam 
só passam .
A estação não é das flores .
A estação é a da escuridão , de nuvens densas e nebulosas , de gente que 
tem medo de ser gente 
tem medo de sorrir 
tem medo de olhar 
tem medo de amar .
E a estação vindoura será de catástrofe ...
O Sol se apagará 
O Mundo sumirá 
A Lua não mais brilhará .
E os outros viventes para onde irão ?
Aqueles que teimam em não sorrir , não olhar ,não amar ...
Sei lá !
Vão pra qualquer inóspito lugar !
E nós que não temos medo de nada ,que sorrimos , que olhamos ,
que amamos , vamos para sempre estar na Estação das Flores .

quinta-feira, 9 de abril de 2015



Castigo
Pra que eu cresci ?
Bem que poderia estar pequenina e quietinha em meu canto .
Perto dela que me dava três surras por dia , eu devia ser mesmo uma peste de menina , com certeza eu era .
Era tão bom ser eu mesma ser criança , mas um dia cresci e daí adoeci . Para sempre ficou tão perto e tão imensamente longe .
Cadê meu irmão primogênito ? E os outros para onde foram ?
E as meninas da casa ? Quem as levou daqui ?
Naquela cova de cimento armado , todos choravam , aliviados ?
Seu império acabou, cessou , agora estamos sós e espalhados pelo Mundo .
Onde estamos nós sem ela ?
O quintal dos sonhos escureceu ,emudeceram aquelas múltiplas vozes , hoje só vozes vorazes .
Não sei mais rezar , faço ora para o tempo passar .
Meus olhos não acreditam mais naquilo que vejo,ai pelejo por ai ...
Meus joelhos já não suportam o peso de minhas saudades , ai finjo felicidades mil ,e não é nem abril .
E o tempo vem ,o tempo vai e o tempo insiste em voltar e sempre o meu coração esta a se enganar ou sempre esta e me esganar .
Lá longe de mim ,encontro a paz , uma paz que aqui jaz e desfaz os dias que ficaram lá atras ...
Ah essa vida vivida sem a avidez de viver .
Por hora não quero ir , nem devo partir , não devo me dividir , e nem me incluir , mas devo sair , fugir dali ou apenas fingir .
Se a morte chegar vai desistir de me levar .
Afinal até ela pode chorar , perder seu ofício .
Acho difícil quase impossível ela me atormentar , vai me deixar estar .
Pois não existe castigo pior que viver aqui dentro de mim .

sábado, 14 de março de 2015


O que sonhas ?
Na vastidão desse mundo árido 
sem cor ,
sem chuva .
Apenas o Sol enfeita essa Terra tua .
Vai , vai pra longe daqui .
Nada te dou , nada te oferecem .
Não tenho nada a te dar .
E eles também nada tem a te oferecer .
Vai que o Mundo é teu .
Leva tuas cores .
Esquece as dores que te causei ...
Vai , lá longe o Mundo é vasto .
Tu serás visto ...
Longe serás também amado ...
A arte faz parte , parte de tua vida .
Mesmo que partas o meu coração
vai e põe tuas cores no Mundo ...
Eu estarei onde voce estiver , voarei tambem na minha imensa imaginação ,
vou estar onde voce estiver ...
Pois me levarás dentro do teu largo coração .

quarta-feira, 4 de março de 2015

Serei a do Mar
Meu é céu tão impuro ...
E essas negras ondas ?
Que me arrastam para o infinito de minh'alma oca ,
não me sobra lugar nesse Mundo obscuro .
E essa nudez desse corpo casto ,
desse sepulcro gasto ?
Sou nada
sou tudo que não há .
Ah , em meus sonhos ...
Uma Lua que não é minha , nem tua ,
me perpetua na rua , na minha
existência nua ...
Arrasta-me dali .
Sou um oceano de coisa nenhuma
Mar turvo ...
Nas curvas de minha lânguida figura feminina , um ser sem nexo , alheio
ao sexo ...
Cheio de pudores impuros ...
Me desenhas ?
Ou me desdenhas ?
Me ordenha .
Ou me ordena ?
O meu tempo não vai , não foi
não flui .
Mas meu intimo fly .
E vai longe , transcende , não ascende , gira em volta de mim
gira e vira .
E virá o tempo em que eu serei , eu ,
serei Deus ...
Serei a Sereia
serei a do mar .
Do mar serei a .
Serei
Iemanjá .
E assim singrarei os mares de todos os santo e matarei
a saudade do meu rebento .
Enquanto isso vou vivendo
o meu lamento ,
de saudades ...
Em minhas noites obscuras vou
vivendo .
Solta ao vento ...
Adriana Noronha
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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Não chorei
Para ir pra casa eu rodava alguns quilômetros , e depois pegava
uma reta chamada 116 , e ai era só alegria , as paisagens eram
tão familiares , atravessava o São Francisco e pedia suas bençãos,
Bahia , Pernambuco ,Paraíba dai o ar ficava mais limpo ,mais cheio de
vida até que eu lia BEM VINDO AO CEARÁ .
Meu coração se abria à vida , se abria ao mundo , ao meu mundo e assim
foi por três décadas , tempo em que fiquei indo e vindo ao meu torrão natal .
E agora como será voltar ?
O caminho tornou-se turvo , uma reta cheia de curvas traiçoeiras , pirambeiras , chuva ácida , buracos , placas caídas , tempo nublado , trânsito perigoso ,blitz ,
e uma placa opaca apagada .
Mil e quarenta talvez um pouco mais me separavam daquele lugar mágico minha
morada de outrora , cheia de gente , um pai , uma matriarca , muitas frutas , muita fartura ,cães , gatos ,crianças correndo a panela chiando e um perfume de terra molhada .
A casa que vovô morou , papai herdou ,e depois pra nós ficou , cento e sessenta metros de pura alegria , éramos os donos do mundo , as crianças mais alegres ,
nunca vivemos como passarinhos e nem tivemos gaiolas , nossos corações corriam livres ,soltos ...
Sempre ao chegar ,ela ali estava a nos esperar ao portão , e ao nos ver abria um sorriso largo e farto , a comida na mesa o suco dos nossos cajus , e nada a deixava mais feliz , que ver sua prole ali ao redor da antiga mesa ...
Não sei quando retornarei , pois sei que hei de não te ver ao portão , no fogão ,
embaixo da mangueira ...
Onde vou te procurar ?
Ainda não chorei !
Não há lágrimas , não há nem um pingo de choro ...
Aprendi a não chorar ?
Eu vi meus irmãos e irmãs chorando .
Eu não ,eu não chorei , ainda não chorei .
Onde escondi minha tristeza ?
Quando vou chorar ?
É tão fácil imaginar que ela esta lá , que tudo esta do mesmo jeito , a casa cheia de gente ,um pai , ela , muitas frutas , muita fartura ,,cães ,gatos ,crianças correndo a panela chiando e o perfume de terra molhada ...
Minha aparente alegria esconde minha maior tristeza , minha maior tristeza é não ter chorado , como doravante sei que não chorarei ...
Deus foi misericordioso com ela e comigo , ela se foi eu fiquei , o tempo acordou e a levou ,eu agora sou livre , posso voar ,posso flanar em meus pensamentos só
posso ir lá ...
Talvez quem sabe um dia ,lá chegando eu reaprenda a chorar ...
A distancia terrena acabou , mas a proximidade das almas tornou-se real ,eu
te acho em meus sonhos , e não me assombro .
O que em meus sonhos posso ver , em meu coração sentir , a morte uniu dois mundos , juntou nossos caminhos ...
Dormir agora é te sentir , te ouvir , mas nunca te tocar !
Talvez um dia eu chore ,e ai sim estarei realmente livre dessa dor que ora se esconde no meu coração .
Adriana Noronha em Benfica, Fortaleza, Ceará

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Os ventos fortes
o céu sem nuvens
uma abóboda azul ...
Um mar , um mar de preces
um rosário na mão , 
e uma oração no coração
não chove , a barra não vem
o tempo passa , passa e passa
o tempo vai
e ela não chega .
E assim ele aboia o gado faminto
seu canto é um lamento
a morte levou seu jumento ...
Seu gibão de couro , endurece suas carnes
seu corpo arde
arde no calor do sertão .
E o vaqueiro insiste em viver
espera um dia vencer
e espera um dia chover .
E como um Cristo na sua cruz
leva sua vida num mundo
cheio de luz ...
Luz que em seus sonhos será engolida
pela melhor coisa de sua vida
a água que vem dos céus ,
enquanto espera ele enxuga as águas
que descem de seu suor
suor de homem do sertão !

Adriana Noronha

sábado, 31 de janeiro de 2015

Livro que não vale a pena ler duas vezes não vale ler uma.

  •  Sim , mais si num lê como vai saber uai .
  •  Dou chance até a página 100
  • Concordo, nobre amigo.
  •  Concordo também!
  •  Ave que livro é esse ?
  •  É um livro chamado metáfora .
  •  Vixe ,esse ai eu não me atrevo não ... Mas eu vou e volto , a metáfora faz parte da arte de ser humano . Ou será que não ? Ah tenho pra mim que sei lá ... Viu, voce me confunde , assim não sei definir se o Sol é escaldantemente frio , ou friamente escaldante . Nam, vou parar por aqui esse livro que tu mencionas , talvez não exista , deve nunca ter sido escrito , ou foi escrito em páginas já cheias de letras distorcidas , ele deve ter frases ininteligíveis , mas que ao lermos tornam-se elucidativas ou pior ainda são indagativas .Ai meu Deus o que é que eu to falando , aliás eu não tô falando , acho que tô é escrevendo , mas não estou lendo . Ou eu estou vendo lá no infinito uma luz metaforicamente escura ? Uma luz escura que nos ilumina os caminhos tortuosos da alma . Voce é louco ? Ou será que esta simplesmente rouco , e não consegue gritar ao Mundo o quanto voce não quer falar , não quer ouvir , e ao mesmo tempo grita que o silêncio te apavora . Que prefere ser devorado pelo barulho que a vida faz ? Não , não , não eu vou parar e sair daqui , pra continuar andando de costas nesse longo caminho chamado de metáfora de uma vida . Eu vou procurar a cura para a minha sanidade ?
  • Faz isso comigo não , fica ai quietinho no teu canto ,que aqui vou tecendo o meu pranto .

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Cores
O teu Mundo é assim ...
Misturado , miscigenado .
Cheio de poesia
De pessoas que cantam
De gente que ora .
De gente que reza .
De gente que diz obaluaê , oxalá
Coroado de misticismo .
Cheio também de malandros
É cheio de homem e de mulher
E tem aquele que ainda não sabe o que é .
Tem águas cheias de peixes .
E tem uma rainha do mar .
Possui um sertanejo cabra macho .
E lá vai Maria que ainda leva a lata d'água na cabeça .
A rica madame de brinco de .ouro
Tem o som dos atabaques .
O acorde solitário do berimbau .
A baiana de vestes brancas e puras
Tem o seu amor que é seu bem e seu mal .
Tem Saulo .
Tem carnaval .
Tem todos os santos .
Tem Zumbi ,caipora .
O medo não te alcança
Tem tua marca de catapora .
A carranca que afugenta a quizipa .
A figa que te dá sorte .
Tem teu pai tua mãe tua vó .
Tem também a certeza que nesse teu mundo tu não tá só .
Teu mundo é assim cheio de sabores , aromas e odores .
Teu Mundo é cheio de CORES .
Imortal

E nasceu aquela criança num dia
de Sol escaldante .
E a noite veio cálida inebriante , as estrelas
coroaram de poesia o seu nascer ...
O tempo veio o menino fez travessuras mil ,
o tempo veio novamente e um homem surgiu .
E seu jovem coração corria livre  dentro de seu
peito febril .
Então ele partiu ,partindo também o coração daquela
criatura que o pariu .
O choro dela o Mundo inteiro ouviu  , e nas suas lágrimas
noturnas , ela pediu ...
Deus tu me deu , tu me tirastes , então cuida ,livra-o de todo
o mal ...
E Deus ouviu aquelas preces , compadeceu-se e o tornou
imortal .
E entre o povo lá esta ele , misturado nas fantasias , entre heróis , santos
e orixás , pintando Joãos e Marias ...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O fim

O mar agora esta calmo ...
O coração já não pulsa 
E a saudade invade ,vem que nem procela ,
gigante ,angustiante , e fria .
O relógio parou , o hoje virou o eternamente , o fim do Mundo
começou ...
As tardes que já são melancólicas vão entregar-se ao abandono, a brisa será úmida , as noites serão longas ,ácidas , plácidas ...
O barqueiro aportou ...
Esperou e a levou .
Além mar , além tudo .
Por entre as nuvens procuro , procuro .
Mas há um muro !
Uma dimensão da qual não podemos atravessar , passar ,
entrar .
Vou te procurar nos sonhos ,que não serão medonhos ,serão só
sonhos , sonhos só .
Vou acordar somente quando te reencontrar , vou procurar ,vasculhar ,
esmiuçar ,indagar , vou pelejar ...
E na minha peleja , por entre os mistérios de Deus , caminharei nessa vida
ou na outra e pra sempre te buscarei .
E o mar ,o mar ...
O mar de lágrimas não vai nunca secar
mas um dia eu hei de te reencontrar .
O fim de tudo ,o fim do mundo,
o fim ...

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Hoje eu vou deitar ...
Vou deitar na azul rede e meus sonhos embalar , vou dormir profundamente e voltar ao meu lugar , vou voltar pra la´.
Por muitas razões ou por razão nenhuma , vou lá naquele lugar , onde quem é de Benfica .
Fica junto , fica perto , fica quieto , fica sorrindo , fica ali ,só isso .
Não haverá sombras e nem fantasmas , visagens e assombrações , seremos 
só nós , seremos o que sempre fomos ...
Não seremos o que somos ,seremos somente o que fomos .
A casa será alegre ,a matriarca sempre ao fogão transformando comida em sabores mil .
E lá na oficina , com o cubano acesso e o peso da prole nas costas estará o seu Brasil .
Os garotos e garotas a correr , brincar , arengar , brigar , pulando pra cima pra baixo , soltos ao vento ...
O tempo deitara e dormirá .
O que gira em volta de mim é só alegria e folia .
As paixões vão adormecer .
E nos nunca vamos crescer , nunca veremos a família perecer , tudo será um eterno amanhecer , um alvorecer onde estarei eu ,nós e voce .
E o tempo não despertará .
A morte não se atrevera em chegar .
Lá será um seguro lugar .
Cadê ?
Cadê meu sonho ?
Ele não veio , eu não dormi , eu esqueci , esqueci o caminho da volta , não deixei pedrinhas espalhadas para poder voltar , não sei retornar , me perdi no meio do mundo ...
Onde estou ?
Quero voltar , me deixa ir , me deixa lá .
Voltar pra casa é sonho de criança que cresceu , viu não gostou ,desencantou e chorou ...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015


O tempo acordou 

E a casa gigante esta sumindo no vento ...
O tempo acordou , e veio cheio de ira , cheio de presa , veio avançando
e empurrou a brisa , derrubou as arvores ,quer levar a bisa ...
As harpas deliram ,os pássaros desfilam no longincuo céu ,e anunciam os 
novos ares , revolvem os mares .
As tempestades de lágrimas vem a galope , um anjo surge em meus sonhos ,sonhos medonhos , cheio de gente que já se foi , não voltam , não vivem e nos

meus sonhos choram ...
Ou será que oram ?
Ou formam um coro de choro ...
O que posso jazer ?
Ou será o que posso fazer ?
Serão anos de solidão , de lembranças tiradas do baú , nas gavetas o cheiro de naftalina ,sobrepujara o cheiro do branco talco ...
Tal como vou ficar .
Apenas branca , branda, banida dos dias com ela .
O que somos mesmos ?
Anjos expulsos , anjos maus ,anjos sem asas e sem poder ,anjos terrenos que
só sabem descrer ...
Tecem uma teia tênue e fria .
E as arpas deliram de novo no meio da noite pura , na noite crua , gelando nossas almas duras ,impuras , opacas e vazias ...
E eles virão num cavalo alado e lado a lado seguirão . .
E na vida terrena ,na eternidade efêmera da vida na terra seremos enterrados em nós mesmos e mesmo assim existiremos num gigante e triste terreno .
Brindaremos em taças transbordantes de veneno , o veneno destilados nos anos sem fim , sera mesmo assim .
Ela sem nós nós sem ela , eu sem voces ,voces sem mim ...
O para sempre será infinitamente longo e para sempre será assim , sem começo sem meio e sem fim .