domingo, 23 de agosto de 2020

 É chegada a hora do vaqueiro vestir a couraça, montar no seu cavalo árabe e sair para juntar seu gado rústico, ele sai em cavalgada com seu berrante, que soa um som peculiar.

O gado macilento,com pouca gordura, sem um pingo carne, magro, descarnado, sem viço, sem saúde,muito abatido, um pouco descorado, pálido mesmo, cheio de verminoses,infestado de carrapatos, sem nenhuma profilaxia ou vacinas.
O vaqueiro cavalga naquele lugar inóspito, na aridez da natureza, vegetação de árvores de pequeno porte,vegetação rasteira, e urticantes, um córrego que agoniza, e para abrilhantar um Sol abrasador.
Ao ouvir seu aboio, o gado vem como procela, arrastando-se a duras penas, naquele solo infértil, levantam o pescoço que carrega um famigerado chocalho, que com seu som agoniante, não o permite fugir dali.
Vão juntando-se naquele caminhar cheios de esperanças, de terem uma vida menos sofrida, imaginam que as promessas serão cumpridas, estão todos com caretas de duro couro que somente os permite a olhar reto, e assim caminham sob os gritos e aboio do disfarçado vaqueiro.
Á sua frente o curral, imponente, com morrões de madeira fornida , espaçoso, e vão adentrando um a um, contados por cabeças.
Os bois irão para o abate, as vacas desleitadas, os bezerros de suas mães apartados, e a sequência dessa vida cheias de mazelas, sera perpetuada.
O gado foi enganado pelo falso vaqueiro, que despiu-se de sua fantasia de couro e vestiu-se do mais puro linho, calçou-se de cromo alemão, na taça de cristal Baccarat deglutiu o seu whisky escocês, sentou-se à mesa de mármore italiano e degustou um salmão, tomou um café classificado, sentou-se na varanda para apreciar o seu reinado.
E para possuir tudo isso ele só precisa juntar, de quatro em quatro anos o seu gado no seu CURRAL ELEITORAL.

sábado, 15 de agosto de 2020

 Boas coisas nunca devem ser esquecidas

De novo amanhece o dia naquela casa cheia de gente, o sol abre-se de novo para aquela família, de oito meninos e cinco meninas que tem a vida inteira pela frente.
Lá na cozinha, o cheiro e sabores nos encantam enquanto a mamãe canta, e o papai assobia.
A Veinha da carimã já passava cedinho, o verdureiro trazia coentro, cebolinha , alface, pimentão no lombo do seu burrinho, o leiteiro deixava seis garrafas de vidro cheinhas de leite fresquinho, o padeiro vinha em sua bicicleta trazendo os pães em sua cesta de vime ainda quentinhos, o seu Brasil era um freguês estribado.

terça-feira, 30 de junho de 2020



As vezes tenho vontade de fugir,
sair de mim e encontrar um lugar para ficar,
onde poderia contar minhas histórias, para meu reflexo
num opaco espelho.
Não quero ouvir outras histórias.
Queria ir sem receios, sem anseios, queria ouvir só
os meus próprios devaneios.
Queria me contar
minhas historias
falar dos meus amores.
Enumerar meus desenganos
reverter meus sonhos escondidos.
esquecer aqueles dias iludidos.
Queria só saber o dia em nasci
ou o dia em que pereci.
Pareço uma louca,
de mente insana
que sangra a cada entardecer.
Mas que não mais acredita no poder do alvorecer
eu queria ser apenas EU,
mas ao meio dia começa meu apodrecer.
As vezes vejo sinto meu corpo jazer
entre  a vida e eu, há um muro
e começo a temer o futuro
mas ele nunca vem...
Entro no trem,
sua fumaça me absorve
o vuco vuco dos trilhos
me enebria a letárgica alma.
O caminho para o infinito me acalma
olho a minha palma sem traços
sem linhas, sem laços,
ponho minha mão na minha mão.
Ouço as promessas que fiz pra eu,
guardo o sabor amargo das minhas tristezas,
do quanto ainda hei de chorar
sem deixar, ninguém perceber.
Vou encostar no meu ombro,
vou ser meu próprio assombro
serei sempre eu,
acompanhada de mim
naquela vereda sem fim...











quarta-feira, 10 de junho de 2020

A casa da Carapinima
A casa da menina da Carapinima estava bem na curva do trem, o Otávio Bonfim era sua antiga morada, mas seu avô paterno deixou o mundo dos mortos e foi viver entre os vivos.
Mudamos para sua casinha minúscula, com um quintal gigante, cheio de arvores frondosas, no jardim muitas papoulas amarelas, vermelhas e grenás, muitas rosas ciclame, ainda não tinha muro e o telhado era muito baixo.
Nada como uma reforma geral.
Papai e o primogênito disseram...
Vamos fazer o pé direito alto, depois foi que eu entendi, e a casa ficou enorme, éramos só quinze !
Mas a maior atração era o trilho do trem, estávamos separados apenas pela rua, a casa ficava a leste o trem a oeste, e os dormentes ficavam deitados, por cima os trilhos lisinhos com pregos fornidos e marretados, uma simetria que me trazia curiosidade, alegria e medo da morte.
Pois a mamãe dizia.
Se vocês andarem no trilho, vão morrer amassados, não vamos ter o quê enterrar, nem a alma de vocês vai sobrar...
A rua era movimentada, carros, ônibus, carroças, bicicletas, transeuntes,andarilhos, mendigos, vendedores de chegadim, tapioca molhada, peixe, verduras, coentro macaxeira, e a Veinha da carimã passava todo dia, e na nosso rua rua morava até uma Miss.
Mas a minha maior alegria era ele, o TREM, que saía lá da estação do Atarbomfim, e de lá vinha apitando, soltava uma fumaça que se misturava às nuvens, começava devagarinho, os passageiros corriam a pegar nas alças das portas, o condutor apitava,e o povo se adiantava, e o apito soava, soava, soava.
Seis da manhã, piiiiuuuiiiii, eitha lá vem ele !
Da rede quentinha eu pulava, corria lá pra fora, no parapeito da janela eu sentava, e la vinha ele no vuco, já acelerado, levando gente, como se leva gado.
Vermelho imponente barulhento, trepidante, fazia tremer o chão, lá dentro um mundo de ilusão, passageiros, homens feios, bonitos rapazes, moçoilas deslumbradas, crianças danadas, o idoso seguia mascando fumo, aqui acolá uma cuspida pela janela tomava o rumo da cara de quem estava apreciando a paisagem que corria.
O Otavio Bonfim sumia e o Benfica aparecia, o trem alinhava as árvores, acordava as casinhas ao seu redor, o cheiro café alegrava o maquinista, o sinal sonoro parava carros, o trem não pára pra ninguém, cortava o vento, levava gente, caixas, jornal, uma mala cheia de saudades, ás vezes a linda moça chorava com medo de não mais voltar.
A menina ficava somente a acenar, e muitas mãos acenavam para a menina alegrar, passavam ruas, avenidas, pontes, a cidade crescia, a vida ia, voltava e ia outra vez.
E entre as nuvens do progresso ele sumia, o trem da minha alegria.
Então o dia corria, mas sempre ligada ao som do trem a menina vivia, já era de tardinha, lá vinha ele no sentido contrário, retornava trazendo quem podia ou devia voltar, quem não queria regressar, deixando quem não queria ficar lá, o Sol já querendo deitar.
Corria a menina que entrava em casa para ver o trem refletido na parede, bem perto da cumeeira, de cabeça para baixo a passar, as nuvens invertidas, e o povo para o papai acenar.
Era um trem, refletido num mundo bom, num mundo mágico.
O primogênito falou.
Isso é o princípio da independência dos raios e o princípio da reversibilidade.
Que nada !
Era mesmo um trem encantado !
Era um trem, refletido num mundo bom, num mundo mágico, no mundos dos tempos dourados.

terça-feira, 9 de junho de 2020

terça-feira, 9 de junho de 2020


A MENINA E O TREM
Para Adriana Noronha
Uma menina que ainda acredita
Em luas e trens

Assim como o Pinduca da música a menina esperava, ansiosa, pelo trem.
Ela não corria para a estação para acenar, como todas outras crianças do bairro. A mágica acontecia bem ali. O trem dos adultos passava do outro lado da rua. O dela passava na parede branquinha da sala.
O trem só passava no fim da tarde, mas era um trem fantasma, que desaparecia se alguém acendesse a luz. Como se ele mesmo fosse assim todo de luz.
Na imaginação dela ele vinha da estação de Santa Luz. Cheio de moças com laço de fita e rapazes engomados do cabelo ao sapato.
O trem maluco, chegava na sua sala sem pedir licença e passava sempre de cabeça para baixo.
Um dia ela brigou com outras duas meninas bem maiores que não acreditaram no contava:
“Um trem feito de luz passa na parede da minha casa, ele vem de cabeça para baixo. A luz que faz ele vem de um buraquinho na outra parede”
“Mentirosa”, foi a resposta suficiente para puxões de cabelo e até um tapa! Não importava se ela ia voltar com a farda toda amarrotada. Ela podia levar poeira, lágrimas e até sangue para casa, mas desaforo...
Naquele dia o trem parecia dizer para ela com seu colorido crepuscular: Vou passando, vou passando, vou passando, piiiiuuuuiiiii.
O trem vai para a Lua. Chegando vai encontrar a menina sentada num cantinho. Protegida por São Jorge e fazendo amizade com o dragão. Nunca para a viagem. A estação é primavera, outono, inverno e verão.

sábado, 9 de maio de 2020

Se a pandemia não acabar ?

Aquele vento sombrio, a todos ceifará, ricos, pobres, fuleiros e nobres perecerão.
Quem sofrerá mais ?
O povo .
O povo não !
Eles já perecem, já estão acostumados...
Quem então ?
O político ladrão !
Aquele que só anda de avião,e se for de carro não paga a gasolina, usa sapatos de cromo alemão, paletó de fino tecido italiano, tem casa gigantesca com piso de mármore, paredes repletas de obras de arte, uma mesa farta cheia de comidas, que o pobre não come nunca viu, só ouve falar, louças finas e copos de cristal,um jardim com piscina, pra encher de meninas em casos não raros também de lindos meninos.
Aquele sombrio vento começará por baixo ?
Não, o sombrio vento nivelou foi tudo, ou todos.
Mas o povo já tá acostumado com mazelas, de manhã cedo come o pão que o outro amassou, bebe café requentado, sua prole sonha, sua mulher dorme um sono cansado,ele corre, tá atrasado, pega um trem lotado socado, empilhado, o povo gado.
A multidão sempre caminha de cangote baixo, levando seu duro fardo, sem direitos, sem respeito, sem chão pra chamar de seu...
Aquele que mora na rua, já mora na rua, tá acostumado, vez ou outra são queimados, violentados, são sempre esquecidos, desvalidos, não tem título, eles num vota, ô turma que não serve pra nada...
Voltemos ao sombrio vento, ao vento sombrio, que a cada estatística, aumenta a arrecadação que por motivo de força maior, não precisa de licitação, os engravatados metem a mão, nunca se viu tanto dinheiro nessa nação, e não é nem aquele dinheiro a fundo perdido...
Porém o povo tá indo, em valas são jogados, mães choram sem ver os corpos de filhos amados, e vice e versa, e a conversa não muda, sempre é fiada, e o povo é o fiel depositário do político famigerado, que está protegido, do povo contaminado.
E o povo vai morrendo, são só números, morrem cem, trezentos, mil, vão se amontoando entre os vivos, morrem mais, morrem e morrem.
Idosos morrem, esses votos são facultativos, tantos faz !
E os bêbes, as crianças ?
Pobres sempre fazem mais, proliferam que nem animais...
Jovens são nosso eleitorado, tudo quer votar aos dezesseis, nos elegem aqueles burros alienados, e ainda sobram os fanáticos que imaginam que por Deus somos enviados kkkkkkkkkk, pobres coitados.
Então vão morrendo um a um, o porteiro, o motorista, a cozinheira, até a enfermeira, o advogado, o biscateiro, o padeiro, o engenheiro, pai de santo , o pastor, o padre, a comadre, o amigo de infância, o cientista , o frentista, o petroleiro, o aviador, morreu até um doutor...
Todo mundo é doutor !
Doutor médico !
Só não pode morrer o eleitor, senão como vou sobreviver ?
Nunca aprendi a trabalhar.
Meu ofício é ludibriar, enganar, lucrar.
Se morrerem todos como vou a vida aproveitar ?
Não sei, seu teste chegou está ali na sua gigante sala de estar...
E assim o mundo ruiu.

terça-feira, 5 de maio de 2020

MEDO II


Acordei no meio da noite, em um lugar qualquer, não reconheci ninguém, não sabia onde estava minha alma, eu estava oca,sozinha, só havia escuridão a redondeza estava muito calma é as ruas completamente vazias .
lá longe ouvi berros, gente fugindo, caindo ao chão, caindo ao chão de antigas mazelas, de dores, de rios de fortes odores, nem sentia mais o cheiro das flores.
Estavam espalhados vários corpos inocentes, o vento espalhava o mal invisível, deixando todos doentes, e alguns de coração ausente.
Uma negra mãe chorava, e dizia que seu rebento foi arrebatado, outra mãe chorava pelo filho também ceifado, outra mãe, outra mãe e outra mãe sem nada, sem corpo, sem restos mortais, sem caixão, sem nada mais...
O medo, tomou forma, era rosado e hediondamente coroado, por dentro, tinha um vírus medonho, ornado não se sabe de quê, queria sangue senil, coisa que nunca se viu, ou se soube que existiu.
Olhei para mim, e nada vi, só vi várias sombras errantes, sombras de vida reprimida, espremida entre o mal e o mal,
e no vírus letal, muitos fizeram carnaval, e para o vírus matar era a coisa mais normal.
Me refugiei na densa bruma, clamei por ele, chamei por Deus...
Deus !
Cadê tu ?
Mamããããe vem me buscar, vem mãe , vem me salvar, não sei sair desse lugar.
Me leva de volta ao útero, me leva pra casa.
Deus, me dá asas !
Cadê meu anjo ?
O sino da igreja não dobra mais, os corpos jazem, é isso que fazem, um mar de gente caminhando para o nada, e nada dizem, nada vêem, nada vezes nada para aqueles que só queriam existir, fluir, amar e evoluir.
O medo, tomou forma, de uma coisa que nunca se viu, ou se soube que existiu.
A sombra consumiu o povo, o povo que não sabia, não sabe e não saberá a força que isso tem, e aquilo vem levando tudo à sua frente, e algumas ovelhas dementes, doentes, de coração ausente acreditam que terão o reino prometido.
Quem dera eu não ter nascido, ou quem dera tivéssemos fugido, e em outro lugar vivido, e não conheceríamos aquele mal ...
Deus !
Meus !
Teus !
Dormi, para não mais sonhar, não vi a Lua, a rua, só ouvi palavras de ordem naquela desordem de vida, vida espremida,diluída, reprimida, só restos de vida, só restos mortais, do irmão, do padeiro, do rico banqueiro, do irmão do jardineiro, Do avô do filho do filho, todos presos no lar doce lar, presos nos restos de vidas de um país inteiro.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Se um dia alguém falar, TU MIM AMA ?
Não retruque, não corrija.
Talvez esse alguém, não teve as mesmas oportunidades que você.
Talvez tenha que ter trabalhado quando jovem ou criança.
Simplesmente para comer, ou em troca de comida.
ANTES DE SER CONCRETO, SEJA VIDA.