Sempre que contemplo o céu
Vejo figuras dantescas.
Cheias de olhos angustiados.
Não vislumbro os anjos.
Nem ouço as harpas.
O vento vem.
E arrasta minhas nuvens.
E só sobra o azul
Horrivelmente blue...
Sempre que contemplo o céu
Vejo figuras dantescas.
Cheias de olhos angustiados.
Não vislumbro os anjos.
Nem ouço as harpas.
O vento vem.
E arrasta minhas nuvens.
E só sobra o azul
Horrivelmente blue...
E eu fui passar o fim de semana na casa de uma prima, lá na Gonsalves Lêdo, uma menina muito pra frentex, bonita, muito antenada nas coisas boas da vida, e tinha uma turma pop, e uns primos que moravam na Fiúza de Pontes, também bem antenados, e à noite nos sentamos na calçada e eu fui a novidade do dia, um papo pra lá de cabeça, havia um menino lindo espetacularmente lindo, passei a noite olhando para ele e no dia seguinte iríamos ao Clube de Regatas.
E o dia amanheceu com um lindo sol, e lá fomos nós de ônibus lá para a Barra do Ceará, e chegando lá, eu caí do cavalo, o menino que eu estava admirada de tanta beleza era uma menina, puta merda !
Eu fiquei besta ! Rapaz que fora...
Como não havia esboçado nada, tava tudo certo.
Cada qual queria ser melhor nadador que o outro, foi aí que outro menino da turma falou.
Porque você ficou a noite toda olhando para a minha irmã ? Quem, eu ? Sim você. Impressão sua...Vamos pular do trapolim ? Bora. bebemos Chrush Laranja, Pippers, Drops, coxinha de galinha, e passamos o dia naquele clube brincando e nadando.
Voltamos todos, á noite uma tertúlia esperava por nós, e de novo a turma reuniu-se na casa dos primos de minha prima, sob a vigilância dos pais e avós, tudo foi apenas dançar lento, sem beijos, mas o clima era de encantamento, onze horas, hora de dormir, falou a Catarina, e todos obedecemos.
E assim o domingo se foi e eu voltei para casa, e no aniversario de meu irmão, minha prima vem com o menino que ficou encasquetado comigo, ele era alto, moreno, olhos incrivelmente verdes e de cabelo bem curto, tinha quinze anos, eu treze, e a noite toda conversamos as bobagens da época.
Hora de ir embora. Já ?
Você quer namorar comigo ? E aquilo caiu como uma bomba, eu só tinha treze, impossível, mamãe vai me matar. Vou pensar. Pense rápido.
Vamos ao cinema, amanhã, e assim começou no Cine São Luiz, o filme O homem mais veloz do mundo, nós ali no escurinho do cinema, somente assistindo o filme, e a timidez não deixou que nos beijássemos, na saída pastel com caldo de cana, e o ônibus de volta para a Carapinima.
Um menino rico, carioca, filho de pais ricos e separados, rico de verdade, a mãe uma deusa, um sobrado caiado de branco, chique elegante, decoração refinada.
Próximo encontro, Feira dos Municípios lá na faculdade de agronomia, muito espaço, barracas de comidas artesanatos, e um parque e nós na roda gigante, vendo fortaleza do alto, mãos entrelaçadas, de novo o beijo não saiu, muitos irmãos por perto, vigilância, timidez...
É essas coisas existiam. Você é muito pura e casta ! O domínio da ordem da mãe era maior que o amor, e fomos assim tentado o primeiro beijo, outro cinema, outro passeio no Center Um, a Praia do Futuro, a natação no BNB Clube, sempre estávamos juntos.
Até que a minha prima falou. Ela não é igual a mim. E num belo dia de campeonato no Naútico Atlético Cearense no meio de uma competição, Abel Júnior terminou o nosso namoro, e eu ganhei a competição, mas não valeu, eu deveria ter sido igual a minha prima... Minha desilusão me fez perder o ano letivo e assim eu repeti a quarta série, minha mãe mudou-me de Colégio, e tive que começar tudo outra vez. Bons tempos, tempos de medos, inocência, vergonhas, e falta de coragem de fugir aos padrões impostos pela família e sociedade.
O medo foi maior que o amor de dois jovens adolescentes. E a Lua foi a testemunha de que o amor daquela menina era grande, porém maior foi sua timidez...
Lá pela década de sessenta, minha família morava na Justiniano de Serpa, mais precisamente na vila Nossa Senhora das Graças, bem perto da igreja Nossa Senhora das Dores, reduto das moçoilas e rapazes enamorados, que apenas se olhavam e já era o bastante para dormirem sonhando com o amor de suas vidas.
A casa da Carapinima
Qual oceano você prefere ?
As vezes mergulho num mar revolto, atravesso ondas gigantes, vou sem medo sinto o sal temperar meu corpo e acender minhas marés cheias de saudades, me envolvo naquelas espumas brancas, e vou nadando, até o infinito dos oceanos, além Mar, além de mim...
De repente avisto o céu, e as estrelas me chamam.
Vem...
E vou ao oceano de luzes, flanando passando perto da Via Láctea, um caminho iluminado, bem naquele imenso buraco negro que é meu coração, e mais á frente a Lua me encanta e me engana.
As ninfas celestes tocam suas mágicas harpas, um som inebriante e estranho, e a escuridão surge num círculo cósmico medonho, o tempo não vai, não foi, sumiu e o vácuo de minha solidão surgiu.
E o universo tornou-se pequeno, o Sol em raios incandescentes, me tira daquele êxtase.
Desperto de novo para a vida, num amanhecer trivial, mas ao anoitecer mergulho outra vez em meu sono habitual, e em meus sonhos vou navegando nos oceanos da vida,