sábado, 29 de setembro de 2012

     Timidez

     Um dia prometemos nunca dizermos adeus um ao outro , seguíamos  para o colégio diariamente , pontualmente ás seis da manhã , o breve tempo da caminhada era o bastante para falarmos de tudo que existia no mundo , esse mesmo mundo era pequeno diante de nós dois .
     Ah com ele era lindo , alvo bronzeado , cabelos louros esverdeados , mas a perfeição eram seus olhos azuis violeta , eu nadava , ele surfava nas ondas dos verdes mares , seu colégio militar o meu de freiras , mundos tão distintos .
     Mas tínhamos uma coisa em comum a timidez algo que atrapalhava demais , gostávamos muito um do outro    mas eu tinha só oito irmãos a cuidar de mim . Será que isso tirava sua coragem de me beijar ? Não ! Será ?
     Não importa sempre íamos juntos , ao portão do meu colégio, eu dizia ser meu irmão , as colegas eufóricas queriam ser apresentadas ao meu irmão .
     Um dia de volta pra casa lá na esquina da Teresa Cristina ,uma flor , mas entre ela e nós um muro e de repente o pulo , e a flor veio às minhas mãos pelas suas mãos e  alegres e ressabiados corremos entre carros e transeuntes , no muro hospício sentamos ofegantes e rimos , rimos e a flor intacta , respiramos um pouco o prazer daquela aventura juvenil , passava do meio dia ao portão parei não entrei nos beijamos com um olhar e ele seguiu eu o segui até vê-lo sumir , amanhã ás seis nós de novo juntos .
    Os dias letivos eram maravilhosos , porem vieram as férias , mamãe me levou à Bahia e largou-me lá , só após um longo ano voltei , ao meu irmão perguntei .
    Cadê o Nirês ?
    Ele se matou , tu não quis ele .
    Não acredito até hoje !
    Fui ao livro , achei nossa flor , murcha sem cor , imprensada naquelas folhas amareladas não deveria ter sido tão submissa aos caprichos de minha mãe .
    Falou meu irmão , que todas as meninas do bairro poderiam e queriam ser dele , mas ele queria a mim  !
    Mas nós nunca falávamos de nós e sim de tudo que existia no mundo !
    Bastava termos tido a coragem de dizer eu te amo .
    Passaram-se trinta e quatro anos e a cor dos seus olhos nunca foi esquecida , em algum lugar desse ou de outro mundo aqueles olhos  hei de encontrar .

Adriana Noronha .

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Alguém que já sentou na lua.