sexta-feira, 12 de outubro de 2018

MEDO
Acordei no meio da noite, em um lugar qualquer, não reconheci ninguém, não sabia onde estava minha alma, eu estava oca,sozinha, só havia escuridão.
Só ouvia berros, gente fugindo, caindo ao chão, caindo ao chão de antigas mazelas, de dores, de rios de fortes odores, nem sentia mais o cheiro das flores.
Falsos profetas maculavam corpos inocentes, e eram seguidos por rebanhos de ovelhas, dementes, doentes, de coração ausente.
Uma negra mãe chorava, seu rebento foi arrebentado, outra mãe chorava pelo filho ceifado, outra mãe, outra mãe e outra mãe sem nada, sem corpo, sem restos mortais, sem nada mais...
O medo, tomou forma, era alvo e hediondamente escurecido por dentro, tinha olhos azuis medonhos, lisos cabelos farpados, boca rubra ornada de sangue pueril, coisa que nunca se viu, ou se soube que existiu.
Olhei para mim, e nada vi, só uma sombra errante, uma sombra de vida reprimida, espremida entre o mal e o mal,
e no coração daquele canibal, matar era a coisa mais normal.
Me refugiei na densa bruma, clamei por ele, chamei por Deus...
Deus !
Cadê tu ?
Mamããããe vem me buscar, vem mãe , vem me salvar, não sei sair desse lugar.
Me leva de volta ao útero, me leva pra casa.
Deus, me dá asas !
Cadê meu anjo ?
O sino da igreja não dobra mais, os corpos jazem, é isso que fazem, um mar de gente caminhando para o nada, e nada dizem, nada vêem, nada vezes nada para aqueles que só queriam existir, fluir, amar e evoluir.
O medo, tomou forma, era alvo e hediondamente escurecido por dentro, tinha olhos azuis medonhos, lisos cabelos farpados, boca rubra ornada de sangue pueril, coisa que nunca se viu, ou se soube que existiu.
A sombra consumiu o povo, o povo que não sabia, não sabe e não saberá a força que tem, e aquilo vem levando tudo à sua frente, e as ovelhas dementes, doentes, de coração ausente acreditam que terão o reino prometido.
Quem dera eu não ter nascido, ou quem dera tivéssemos fugido, e em outro lugar vivido, e não conheceríamos aquele, no mal nascido, no mal alimentado, no mal crescido, no mal treinado, no mal doutrinado...
Deus !
Meus !
Teus !
Dormi, para não mais sonhar, não vi a Lua, a rua, só ouvi palavras de ordem naquela desordem de vida, vida espremida,diluída, reprimida, só restos de vida, só restos mortais, do irmão, do padeiro, do irmão do jardineiro, do filho, restos de vidas de um país inteiro.
Autoria ___ Adriana Noronha

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Alguém que já sentou na lua.