sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Sombras andantes

O sono veio pesado , muito pesado ,
ela foi vencida pelo cansaço
e seus olhos cerraram-se , adormeceu .
Uma nuvem veio e cobriu o mundo , cobriu
o mundo seu .
E ali estava de novo a noite ,
cheia de sombras andantes ,
negras sombras sem brilho ,
opacas sombras .
Os sonhos daquela menina eram como a magia de voltar para
casa ...
E ao seu redor o nada , aquele que de dia nada fazia , saia à
noite para o seu terror espalhar .
Passos de veludo , respiração branda , olhos de fogo e o cheiro de enxofre no ar .
Uma mente insana , profana , uma mente indecente , doentemente
indecente .
E no seu sono profundo debatia-se , tentando acordar e fugir daquele
amaldiçoado lugar .
E o sono cansado de , com ela lutar , desistiu ...
E aquela sombra dantesca não suportou aquele olhar e voltou para a
sombria alcova .
E finalmente o Sol voltou , o dia raiou ...
E ao ver o crepúsculo se aproximar ...
Se entristece a menina ,
que verá de novo tudo recomeçar .
E ali estava de novo a noite ,
cheia de sombras andantes ,
negras sombras sem brilho ,
opacas sombras ...

Adriana Noronha
Vai , vai , foi

E o mal que tu fez a ele ,
tu o fazeres a mim .
O respeito que ele te tinhas , tu não tinhas
daquele ao teu lado .
Pensava ele ter mais uma irmã , porém tu
não o tinha como tal .
E aquele ao teu lado ... Tu sabes , o que tens
nós sabemos , todas nós sabemos ...
Agora sei, serem almas idênticas , replicadas
almas , a mão e a luva ...
E por uma coisinha tão simples chamada
arrogância , e gana ...
Tu nos jogaste ao lixo , ao vento , às traças
ao tempo ...
E aqueles a quem amávamos sem medida
sumiram ...
Nos foram arrancados daquele convívio cheio
de dias alegres e barulhentos .
Vai segue em frente , não olhe para trás , vá
sempre adiante .
Passe por cima de tudo , de todos , pise nas rosas
são somente rosas ...
Pise firme , desconstrua tudo e levante outras paredes
seja que realmente és .
A verdade a ti pertence , enganas aqueles que não a
conhecem nua e crua .
Aquela mentira dita cem vezes por tua boca será a tua
verdade ...
Deixa o tempo rolar , pois o tempo tem todo o tempo
do mundo .
Só não há mais tempo para nós , ele findou , parou , esgotou ,
e não volta só vai , vai , foi ...
Outros virão , o céus passarão , tudo que fomos a chuva
levara pelo chão .
E como tudo corre para o mar , aquilo que fomos evaporará
pois tudo que o mar leva um dia o mar traz .
Por sorte nossa o que um dia fomos agora jaz ...

Adriana Noronha

 Foto

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A pedra e o mar

A pedra deitada ao mar
fica a olhar e apreciar o tão
distante Céu ...
O mar vem , vai , volta , bate
e revolta .
E a pedra lá , somente deitada ao
salgado mar .
Não se importa com a violência daquelas
ondas cheias de brancas espumas .
A pedra não sabe quanto tempo o tempo ainda
tem e resignada fica naquele vai e vem .
O tempo passa e o mar fere a pedra , fura , corrói ,
mas não a destrói .
E ela deitada fica a olhar e apreciar o tão
distante céu ...
Aquele imenso e violento mar não consegue o seu
olhar desviar .
Um dia sonha a pedra , deitar naquelas nuvens e do alto
ver o brando mar por ela , para sempre chorar ...

Adriana Noronha
Foto
Eu mesma


Eu não sofro porque
gosto ...
Gosto é de ser poeta .
E amar coisas impossíveis .
Gosto de morrer de
amor
Acredito em sonhos encantados .
gosto pessoas de carne e
ossos .
Corro ao vento como uma criança inocente .
Gosto de ver a Lua .
Fico olhando os pingos da
chuva .
Gosto de me banhar dessa sorte .
Não acredito no fim do
Mundo .
Gosto de imaginar o fim do mal .
Não mataria por amor ,
morreria por ele .
Gosta da vida .
As coisas antigas duram
mais .
Gosto de moveis velhos .
Cubro meu sono com uma antiga colcha
de retalhos .
Gosto de costurar e de bordar minhas fantasias e sonhos .
Todos falam a mesma
coisa .
Gosto de falar o que penso .
As pessoas são todas
iguais .
Gosto de ser diferente .
Pois sendo assim ninguém me olha e seguem
em frente .
Gosto de existir pra mim mesma .
Gosto de ser toda minha .
E toda minha vida assim serei sempre EU mesma .

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Dúvidas 

Não volte nunca mais 
pra mim .
Não te quero mais e 
nem quero te ver .
Não hei de amar-te como
dantes .
Não te acho mais bonito .
Não quero sentir teu
cheiro .
Não quero mais ver passar o
tempo .
Não sei mais quem tu era ou
quem tu foi .
Não , não e não ...

Volta pra mim .
Quero te ver sempre .
Hei de te amar mais e mais ...
Tu és tão bonito .
Teu cheiro é minha essência
Quero ver o tempo passar ao seu lado .
Tu era e será tudo pra mim
Sou louca !
Ou sou Louca ?
Sei não ...
Mas tenho pra mim , que sei lá !
Voce , não é o meu sim .
Mas com certeza não é o meu não .
Sim ou não heis minha razão .
Ou será
minha vazão .
Sei não ...
Ou sei sim ?
O mundo é dos loucos ...
Ou os loucos é que são doidos ?


Adriana Noronha Foto

sábado, 7 de dezembro de 2013

Mundo adulto 

É lá que quero estar , porém sei que tudo que havia , não existe
mais , aquele lugar , agora jaz .
A casa ruiu , a própria rua sumiu , a mágica arvore foi arrancada , 
o progresso foi a cilada .
A velha vassoura não esta mais 
atrás da porta ,
mas para os outros nada 
disso importa .
Para onde foi aquela família .?
Por qual trilha foram teus
filhos e filhas ?
O xixixixixixixi da panela de pressão , não ouço mais não , a água do
chuveiro evaporou , não vejo a roupa no varal , o banco no quintal ,
a panela o prato e o sal , a cajuína o mel e a lamparina , não ouço o barulho das meninas , as bonecas sumiram , as bicicletas enferrujaram .
E os meninos onde estão ?
Abriu-se chão ?
O pai se foi a mãe tá indo ...
E o tempo não parou .
O tempo não nos esperou , da noite pro dia nos enganou e em adultos tristes nos transformou .
E nós nos perdemos em meio aos escombros , para mim um verdadeiro
assombro .
De novo o mundo adulto , vem destruindo tudo à sua frente , e nós nos esquecemos que um dia já fomos gente .

Adriana Noronha
Matridemônio 

Ele um dia se apaixonou ,
por uma bela .
E para sua vida a levou , dourados
cabelos , tinha ela .
E a vida foi passando , foi indo , e a bela
se transformando numa fera .
Uma criatura que até gerou vida , mas completamente 
fingida era sua lida .
Para ele a mais pura , uma fiel criatura , seu puro
coração não via .
A própria cria do inominável , e o tempo foi , alonjou ,
veio e voltou .
E o inocente homem que não crescera , foi ceifado do
mundo onde era subjugado .
Feito um rato foi traiçoeiramente enganado com o perfume
do queijo .
Os sinos não dobraram , os sinos calaram ...
A feroz chorou na sua sepultura , mas em seu intimo
gargalhava e sorria a criatura .
Mas a justiça divina tambem te reserva aquele mesmo buraco
escuro , estreito frio e profundo .
Tu mesmo te condenas , quando inveja , mente , finge e toma pra
si o que nunca foi e nem será seu .
Ele inocente morreu , coitado , mas por Deus foi levado .
E tu esqueroza criatura , será recebida por aquele de olhos de fogo e unhas de punhal .
Serás para ele melhor que a receita , tu seras a esposa perfeita .

Adriana Noronha

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Uma , duas , três vezes

Quando a noite chega , e o breu escurece o Sol , a Lua vem 
devagarinho e entra no meu sonho .
E consegue iluminar minha alma cansada do mundo dos 
adultos .
E em meus sonhos esta vôce , que faz um barulho alegre e
cheio de inocência .
Os brinquedos pairam no ar , e só há o amor que sinto por esse
menino que nem é meu .
Mas que sabe como nenhum ser vivo , alegrar meu estúpido
coração .
O som de sua voz ainda ecoa ao longe ...
Te levaram para além mar , pra bem longe de mim , mas eu
hei de te esperar .
E quem sabe um dia , voltar a brincar , cantar , assombrar , sorrir
e rir do que fomos ...
E ela estará sempre lá , e do céu iluminara nossos caminhos , uma
Lua que é só minha e tua .
Uma , duas , três vezes vou esperar o mundo dos adultos dar uma trégua
e deixar ...
Sermos o que fomos ...
Voltar a ser o que somos .
E se o tempo passar e voce crescer e me esquecer , mesmo assim estarei
lá ...
Uma , duas , três vezes vou esperar ...

Esperar sempre por voce .
O mal 

Na primeira vez que ela o viu , 
viu tambem a materialização da maldade .
Aqueles olhos traiçoeiros , secavam sua alma 
de menina .
Sua voz grave e enfadonha , uma sinfonia
medonha .
Ao seu redor só criaturas cegas ,asnos
mulas .
Pisava leve , para que não ouvisse os seus
passos .
Fugia como o inominável fugia da cruz , e ao seu redor
só cegas criaturas .
Seu choro não se ouvia , pois não adiantaria , ela partira e
a deixara .
Sem liberdade , da gaiola para um poço profundo , pois são
assim as coisas do mundo .
Dias corriam , porém a noite arrastava-se , era escura , sombria ,
longamente longa e sombria .
E assim ela crescia e sempre corria , fugia , e fugia ...
Mas num belo dia num cavalo alado ela subiu , foi à Lua
e de lá nunca mais saiu .
Mas a materialização da maldade ainda existe naquele oco
coração ...


Adriana Noronha 

Foto

sábado, 23 de novembro de 2013

Pessoas 

Saí de dentro de mim e fui caminhar 
por entre as pessoas ,
sem que elas me vissem . 
Deparei-me com tudo aquilo que 
acreditava não existir .
Pessoas cheias de medo .
Criaturas cheias de ganancia .
Homens depravados escondidos em 
forma de anjos .
Mulheres subjugadas por si mesmas ,
sofredoras resignadas .
Meninas bonitas sem nenhum sonho bom ,
aliciadas .
Meninos bonitos , servindo somente como
fetiches .
Olhei para os templos cheios de Anti Cristos ovacionados
por negras ovelhas .
As escolas repletas de alunos robotizados e sem inteligencia .
Professores sem o entusiasmo na alma .
Mães chorando num ninho vazio , e os filhos soltos no tempo ,
ao vento .
Ruas cheias de gente caminhado para ludar nenhum .
E a humanidade ruminando sempre aquele mesmo alimento , engolindo
sapos , arrotando arrogância .
Olhei o Céu e não havia nada lá .
Não há nada aqui .
Vou voltar pra dentro de mim , sabendo que tudo que vi ,
também esta lá ...

Adriana Noronha

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Perambulando na Lua 

Dormia profundamente aquela que não tinha 
culpa de ser tão bela .
Possuía uma beleza intocada , e inocente e não 
sentia que o mal lhe apreciava a carne .
E os olhos grandes e negros lhe secavam a juventude
lhe espreitavam os movimentos . 
Não conhecia a maldade a bela menina , somente sonhava em
voltar ao seu lugar , ao seu lar ...
E os olhos do mal sempre a seu redor ,
um lobo em pele de lobo .
O frescor de sua pele , o negro dos seus longos cabelos
e o sorriso inocente ...
Eram suficientes para enebriar aquela criatura asquerosa
e putrefata .
Dormia profundamente a menina , e no seu sonho um príncipe
lhe segurava a mão , e conquistava seu coração .
Porém no escuro do quarto no silêncio da noite profunda , uma mão surge
a tocar-lhe a pele .
Não era o príncipe , não com certeza não era ele não !
E do seu sonho não conseguia sair .
Foram segundos apenas , mas eternamente longos e aterrorizantes ,
aquela sombra negra tomou forma demoníaca .
Mas o medo não a venceu e sim a bravura em de se manter pura , e salva daquela criatura .
Mas suas noites nunca mais foram as mesmas , e foi assim que aquela menina começou a aprender que o mal existia .
E passou a cobrir até o buraco da fechadura , e não se importava em ficar à noite perambulando na Lua .

Adriana Noronha
Nada , nadinha 

Voces foram decepcionantes , 
aliás alguns de voces , foram 
lamentavelmente decepcionantes .
Jogaram fora , uma vida inteira ,
uma vida inteira jogada fora .
A ganância venceu o bom senso ,
o bom senso não venceu a ganância .
E hoje a louca colhe os louros e se 
regojiza , com a VITÓRIA .
Seria mesmo ela uma Louca ?
Numa parede enterraram os abraços ,
os sorrisos e os laços .
Um laço chamado família , e naquela nação
não existe mais união .
Deixaram alguns centimetros para o próximo
que irá morrer ...
Mas para morrer não é preciso estar morto ,
morremos de varias formas e maneiras ...
Mas foi melhor assim , pois agora sei quem são
meus vorazes algozes .
E não te desejo nada , nadinha mesmo
somente tudo aquilo que voce minha cara , já possui .

Adriana Noronha
Treze

Nós éramos treze .
E hoje quantos somos ?
O primogênito se foi !
Outro nós foi tirado ...
Na conta dos oito , faltam dois .
Como vivem os que restaram ?
Onde eles estão ?
São felizes ou não ?
Das cinco restam , cinco .
Mas a conta só une quatro .
Cinco nunca mais ?
Se depender de mim , não ...
Nunca mais cinco ...
Serão para todo o sempre , quatro .
Cinco só naquela velha foto .
Ou na foto que envelheceu .
Para onde foram os filhos e filhas ?
Daquela que dizem ser Justa .
Justamente eu ,
Eu justamente igual a ela ...
Cheia de rancor e as vezes
cheia de coisa nenhuma .
Vejo o tempo passar ...
Mas o tempo não passa , amassa .
Ele amassa o que pouco resta de mim .
Por quê justo eu tinha que sair assim ?
Justamente igualzinha aquela ,
que dizem ser Justa .
Justamente eu , igualzinha
cópia fiel da Maria Justa .
E hoje contemplo o vazio ,
que outrora era justamente assim .

Adriana Noronha

domingo, 10 de novembro de 2013



Eu

Permita-me voar , ir ao mais longe de mim , 
sumir na imensidão do Mundo 
e apenas flanar entre as nuvens , não me acordes . 
Deixa eu ir , somente ir , e quem sabe um dia volto ao meu lugar , 
volto e vejo que não valeu a pena fugir .
Pois aqui eu tinha tudo aquilo que sempre busquei , 
mas minha cegueira existencial não me permitiu ver .
Me libertes dessa prisão , deixa eu correr , 
correr e talvez tentar viver , viver longe de mim .
Meus olhos não veem o que meu coração alcança , 
então lança tua paz sobre meu corpo terreno .
Permita-me voar , renascer , reviver , renascer ...
Mas deixar eu ser , uma criatura melhor que eu , 
melhor que tu , e quem sabe ser melhor que Deus ...
Não melhor que aquele Deus que esta lá no céu ...
Mas quem sabe parecido com aquele Deus que nos acuda .
Que ele nunca me iluda , mas me salve de mim mesma , 
e mantenha minh'alma perto de mim , 
talvez até fora do corpo , 
mas perto , sempre perto daquilo 
chamado Eu .

Adriana Noronha

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Aconchegar 

Eu vou lá em casa , e não é nem Natal , mas eu vou lá em casa .
me deu uma vontade de correr , de fugir desse Mundo de adulto , desse Mundo artificial .

Não quero saber no que me transformei , numa mulher , esposa , 
mãe ou uma simples e simplória professora ...

E quando chegar na esquina , vou voltar a ser aquela menina ,
e ao entrar lá , tudo vai estar no seu devido lugar , o papai na oficina
a mamãe a cozinhar , os meninos e as meninas naquela eterna disciplina .

Vou correr pelo quintal , colher cajus , apanhar as roupas no varal , ver
passar o trem , subir na azeitoneira e ver a torre da Catedral .

Minha mãe não será senil , meu pai ao seu lado vai estar , e não verei
meus irmãos no mundo a se espalhar .

Nada vai ser diferente naquele lar , onde no mundo inteiro melhor lugar
não há ...

E aquela mesa debaixo da mangueira vai estar cheia de gente , com uma
comidinha bem quente .

O Sol vai nascer maior , vou ver chover , o galo vai cantar mais alegre , e a noite
vai ser longa alegre e estrelada .

O vovô vai nos assombrar , mas não vou me assustar , vou adorar estar de novo naquele lugar , naquele lugar e me aconchegar ...


Adriana Noronha

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Ei , acordas ...
Por quê dormes assim ?
Tu és um anjo da guarda ...
Onde está aquele que tu deverias cuidar ?
Onde o perdestes ? 
Levantas e vai ao seu auxilio , procura-o pelas ruas escuras ,
pelas noites inebriantes ...
Não o deixes voltar ao pó tão cedo , por causa do pó , se tens dó
levantas e vais .
Ouves o choro daquela mãe , o choro de toda mãe é imaculado , mesmo
sabendo que seu filho foi concebido no pecado .
Revolves o Mundo , procura ali , remexe aqui , voa bem alto , voa , voa longe ,
olha nos becos escuros , por trás do muros , talvez no entulho ...
Ele não fugiu do berço , e sim arrancado do peito , do peito da mãe , o leite
agora derrama ...
Ouves aquelas preces , daquela que roga aos céus , a Deus e a ti anjo da guarda
vais em busca daquela ovelha que desertou !
Traz de volta o rebento , mas ele for muito pesado , ficas ao seu lado livrando-o de todos os males e dos ares .
Mostra a ele o caminho da volta ...
O caminho de casa , desnuda os seus inimigos e o traz ...
Coloca-o num retiro alto e seguro .
Ele ainda não esta maduro , pensa que cresceu e por isso se perdeu , tira-o da cruz pois só que pôde com ela foi Jesus .
Ele ainda não esta pronto , mas se ele não vier , protege-o por todos os cantos , e assim diminui da mãe aquele pranto .
Acordas e vai , voa , Santo anjo do Senhor , seja seu zeloso guardador pois já que a ti o confiou a piedade divina , vai , sempre o rege , o governe , o ilumine , amém .

Adriana Noronha 

Foto: ♥ Durmam com os anjos, uma ótima noite para vocês. Até amanhã ♥
Quintal das Cores
O dia amanhecia 
a meninada pro banheiro corria ...
E assim a vida naquela casa 
fluia ...
E lá na cozinha alguém com suas mãos de fada
algo de bom fazia !
E a mágica transformava carimã em dedicação de
mãe .
E o cheiro do mingau espalhava-se no ar , misturando-se
ao perfume das meninas
e ao cheiro da espuma de barbear .
E a mesa arrumava-se toda para aquela confusão acalmar
e meninos e meninas
chegavam de par em par .
Podíamos comer de tudo , ovo , pão , cuscuz ,
e até não comer
mas do mingau de carimã era impossível escapar .
Tinha que beber para não apanhar ...
Costume lá do Bonito , aprendido com uma
avó , que se foi , antes
daquela prole se completar .
E assim a vida fluía e para escola toda aquela turma
corria .
E ao portão o patriarca soltando ao vento o cheiro de seu Cubano
que nos envolvia ...
E assim naquela casa a vida
fluía ...
Hoje a vida vai , não volta
a vida vai ...

Adriana Noronha

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Sabor e encanto

O amanhecer lá em casa era meio mágico ,a brisa da manhã chegava calma e fresca
as redes lotadas de meninos fortes e de belas meninas , mas o som ensurdecedor das alpercatas do papai Chico Brasil arranhando o chão nos tirava do sono e dos sonhos , o banheiro era enorme mas era só um e a fila congestionava , e o nosso amanhecer era literalmente bem de manhãzinha mesmo , muita gente , muita algaravia , muita confusão e a rede que ficava vazia mais cedo era a da mamãe Maria justa .
Onde ela achava tanto vigor em madrugar e aquela turma empurrar pra lida , pra vida , pra rua ou pra Lua ?
O primogênito usava sua farda verde e coturnos alados , a farda das moças eram saias de pregas numa cor grená que o vento insistia em levantar , os pequenos iam pro jardim da infância e assim a vida fluía .
Mas melhor do que amanhecer era sentir o cheiro que vinha lá da cozinha , uma nuvem que tomava conta de toda a casa e da vizinhança , causando inveja aos maridos que não eram casados com a mamãe , ela além de bonita sabia cozinhar como ninguém ,e isso era o cheiro que despertava a inveja daquelas que só sabiam ovos cozinhar .
E os pratos de canjica estavam todos espalhados na mesa , as palhas do milho na chão , o bagaço era dos pintos , e nós brigávamos para raspar a panela , é para raspar a panela pois era nela que estava o melhor daquela manhã .
E assim ela nos criou para a vida , e a vida veio a vida foi e a vida ainda esta indo ,e agora ela mudou de lado , tem quem faça aquela canjica , com o mesmo sabor e encanto , mas ela mudou de canto , e agora raspa o melhor , volta a ser aquelas belas meninas e se lembra de seus meninos fortes .
E ainda insiste em viver .


 Adriana Noronha

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Grandes e tristes olhos 

O que está escondido atrás desses 
grandes e tristes olhos ?
Neles há muito amor ou
muita dor ?
E as cores da flor ?
Um olhar de brilho muito fraco ou um
olhar opaco ?
E essa nuvem que te envolve !
Que te lança ao mais infinito de tu ,
teu Mundo gira numa cadência redonda
ou hedionda ?
Se esconde nas cores , ou maqueia teus
rancores ?
Te cobres de odores , ou te enche de
amores ?
Vai voa , vais ao mais infinito
céu .
O Mundo não é de papel .
Faz de mim
teu mel ,
teu meu ,
teu mal ,
teu sal .
Me leva onde , te leva o teu olhar , e
me olha ...
Desse jeito assim ,
e serei sempre
e sempre serei
o que nem mesmo eu sei .


Adriana Noronha
Sentada na praça 

Em meados do ano as belas meninas , colegiais da Escola de freiras com seus sapatos cara de boneca , queriam dançar quadrilha , festa junina lhes causava alvoroço , muitas moças nenhum rapaz ...
Qual a solução ? 
Colegio Militar ! 
De novo não , são os mesmos do ano passado .
Então eu joguei com a cabeça ...
Que tal os alunos da Edgard Facó , são mais velhos , mais bonitos , são lindos em sua farda de cadetes .
O suspiro foi geral ....
Ahhhhhhhhhh !
Então trato feito , as freiras concordaram , desde que eles nos buscassem no colégio às 18:00 e nos devolvessem em casa às 21:00 .
E os ensaios começaram , o ônibus chegava à Escola doméstica São Rafael , lá na Av do Imperador , e nos levava ao clube dos Oficiais ,lá na Praia do Futuro .
Eles eram morenos , louros , negros , esguios e havia um de cabelos de fogo , ruivo , de nomes muito variados Moabe , Junior , Estevão , brugnólio , Oliveira , Marcos ...
Os ensaios eram muito divertidos , a única coisa ruim era uma arrogante e feia chamada Violeta além de nariguda , estúpida , mas somente descobri o porquê , quando soube que seu par queria ser o meu par .
E realmente eu só olhava para o meu par , alvo louro olhos verdes e muito bonito .
E o tempo passou e chegou o grande dia , do baile , meu par ficou detido por insubordinação , e a tal Violeta com má digestão , faltaram dois eu e o Oliveira tivemos que nos contentar um com o outro ...
O Marcos é baitola , queira ele não !
Tá brincando !
Verdade ...
Então ai começou uma história que foi parar no banco da Praça da 10º Região Militar , e nas tardes de sábado e domingo ficávamos lá vendo o bom da vida passar , dois apaixonados que não puderam o amor sustentar pois ele não era alvo de olhos verdes apesar de tão lindo quanto .
Era apenas um jovem aspirante , que não era branco e nem moreno e de novo a megera interrompeu mais uma história de amor ...
E hoje passados trinta e cinco anos aquela mulher , senta-se naquele mesmo banco , onde a inocência ainda existia , e seus olhos vêem seu jovem aspirante , a passar numa bela farda de Coronel .
Ela não o chama , não clama ...
E assim a vida é , a vida segue e a vida vai .

Adriana Noronha
Espevitada 

Havia uma menina muito , muito espevitada , 
das três ela era a mais desastrada ...
Gritava alto , corria demais era difícil mantê-la 
parada .
À mesa era um desastre , misturava a comida
e era impossível não derramar a jarra do suco 
o refri ou o pudim , desse jeito assim .
Certa vez numa viagem o carro cheio de gente ,
a pimenta espalhou-se no ar e todos desceram
correndo a chorar e com vontade de esganar ...
Ao amanhecer seus cabelos causavam terror ,
prendê-la nas pernas e pentear-lhe era um horror .
E o tempo passou , numa pela moça ela se transformou
veio o primeiro amor , e de novo outro amor .
E seu caminho seguiu , um marido sua paixão , seu
orgulho sua formação , depois seu maior tesouro chegou
igualzinha a ela única diferença cabelos de outra cor .
E veio sua maior provação , e de tão feliz que era aquela
menina , sua gana em viver a fez renascer outra menina .
E abençoada pelo próprio Pai Celestial sua vida segue como
sempre foi ...
E aquela menina hoje uma grande mulher
sabe muito bem o que quer
seguir em frente , rente
e espalhando por onde passar
a sua grande garra em lutar ,
pedalando e espalhando
as flores que recebeu
na sua abençoada vida .
Essa é voce !
Sempre voce .

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Grande cabeça oca

Fiquei lá no alto olhando o tempo ,
e veio o vento , e meus pensamentos 
pesaram em minha grande cabeça oca .
Naveguei um tempo dentro desse vento ,
chamado vida louca .
O abismo é fundo , e ele se chama
Mundo .
E o meu não existe dentro de mim , por 
isso sou assim ...
Sem começo e nem fim .
Um horizonte torto , e aquela brisa fria
que queima minh'alma , sem calma , sem
palma , só alma , alma só .
E como um almanaque de folhas brancas ,
não escrevo o que sei , e não sei o que escrevo ...
Eu não tenho medo , não tenho pudor , não sinto
ardor , amor , odor , mas muito horror .
O abismo é fundo , e ele se chama
Mundo .
Um lugar imundo , raso e dantescamente
profundo .
O vento vai e o vento vem , dentro de mim
nada tem .

Adriana Noronha

terça-feira, 17 de setembro de 2013

A azeitona do pastel tem carroço .

Numa tarde incandescente lá no Benfica , estava eu a fazer tarefas escolares , um carro parou , ele entrou e perguntou 
Cadê a Maria Justa ?
Levantei a vista era ele , paletó , gravata , sobrancelhas fartas e seus inconfundíveis óculos fundo de garrafa .
Tio Batisssssssta !
A mamãe não tá ...   
Puta que pariu !
Então vai se arrumar , que nós vamos passear .
Dei um pulo , e corri a me aprontar , vestido vermelho de poas brancos , justinho na cintura e saia farta , na bolsinha de mão nem um tostão .
Menina tu é muito linda , vai me dar trabalho .
E no táxi fomos , atravessamos a 13 de Maio , Domingos Olímpio , Duque de Caxias , ele quis entrar no Coração de Jesus , entramos rezamos .
Enfim Praça do Ferreira , reunião numa sala no prédio da Farmácia Pasteur , muitos senhores todos como ele de paletó e gravatas , e eu lá naquele universo que não era o meu .
Perguntaram quem era a mocinha .
Ele respondeu ...
Cumade Cirninha minha sobrinha , e tirem olho !
Ai meu Deus , ele disse meu apelido ...
Entramos na Lobrás e fomos tomar um sorvetão enorme , porém um lindo rapaz o derrubou em cima de mim , talvez num tombo proposital .
Tu vai vais pagar outro fila de uma puta !
E outro sorvete , e um olhar malicioso do lindo rapaz , alvo louro dos olhos azuis .
Um café expresso no Hotel Excelsior , e finalmente o grand finale , pastel com caldo de cana na Leão do Sul , e o aviso A AZEITONA DO PASTEL TEM CARROÇO .
E de novo o lindo rapaz , que estava na fila à minha frente esbarrou de novo em mim e perguntou .
Tá me seguindo ?
Eu não !
Mas voce sim , marmanjo , falou o Tio Batista .
Calma Noronha !
Falou o pai do jovem rapaz . 

Que também estava naquela reunião de homens engravatados .
É moça de familia , não é pro teu bico .
E naquele momento meu tio profetizou ...
O que é proibido é mais cobiçado .
E o jovem rapaz sorrateiramente me deu um cartão , fulano de tal e tal , Relações Publicas APLUB .
E uma das tardes mais fantásticas de minha juventude , me renderam um rapaz que ficou fascinado por mim , mas meu coração já tinha dono .
Telefonava diariamente , dizia que possuía uma CB 400 um Del Rey azul , que era de familia muito rica e nunca levou um fora de mulher nenhuma ...
Realmente , foi ai que lembrei do tio Batista .
Mas levou um fora de uma moça de familia .
E de volta ao lar , lá ficamos vendo ele a a mamãe cantar .
Numa roda cheia de harmonia só com gente de família .

Adriana Noronha
LATIFÚNDIO

Todos vão pra lá
seja rico
seja pobre
inocente 
ou arrogante ...
" essa é a parte que te cabe desse latifúndio "
É o lugar mais certo
desse mundo .
A carne volta ao pó
a vida dá um nó
vamos só .
Alguns cedo
outros tardiamente .
Não adianta correr
se esconder
sair da fila ...
Ela esta a te espreitar
e sabe a hora de chegar .
Nada no mundo
tem dono
pois o dono do mundo
é ninguém .
E ninguém quer ir
para um lugar
raso
e
ao mesmo
tempo
profundo .
Essa é a única certeza do nosso MUNDO .


Adriana Noronha
João Castilho, Terra Dada
Nem você nem eu nem Deus

Não abra as gavetas de minh'alma ,
lá não encontrarás nada .
Por anos a fio , pensei que vivia , fluía
corria pelos campos alísios da vida .
Fui acumulando sonhos , arranhos ,
cicatrizes , feridas ...
Na gaveta do coração uma breve ilusão ,
nas gavetas do peito
derramou-se o leite
no estomago gosto amargo
de fel com azeite ,
naquela das estranhas ,
só há coisas estranhas .
E por aquela fechadura ,
que tentei não abrir ,
invadiu-me o bem e o mal ...
Basta , não venha
não vá lá ,
pois mais nada há de encontrar , e o que havia
nunca hei de te falar .
São apenas gavetas vazias , que um dia para
sempre vão se fechar .
Nem você , nem eu ,
nem Deus .

Adriana Noronha



Vagina 

Eu quero voltar pra casa .
Quero não ter nascido menina ,
talvez se eu fosse um rapaz , seria muito amado por minha 
doce mãe .
Doce ?
É doce mãe , ela adora os rebentos meninos ...
Puta que pariu !
Outra menina ...
E assim eu vim
Eu sou um manuscrito que ninguém consegue ler ,
decifra-me e te devorarei .
Pois nem eu mesma sei , o que sou , pra onde vou ,
no que a vida me transformou .
Minha alma esta jazendo , se consumindo , os longos cabelos
escondem minhas costas surradas , as minhas cicatrizes da vida .
Escondem o erro de eu ter nascido eu ,
poderia ser muitas outras coisas , mas só soube mesmo ser eu ,
não mudo , não melhoro , não renovo , não nada .
Alguém gritou ...
Largue de loucura ...
E acordei daquele transe ,
daquela hipnose , que me anula , em detrimento de outrem ,
e o trem veio e esmagou-me .
E agora vou ser o quê mesmo ?
Eu só sabia ser menina ,
eu não tenho falo .
Então diante de ti me calo , não Falo ...
E como menina nasci com vagina ,
imagina , pobre menina ...

Adriana Noronha

sábado, 14 de setembro de 2013

Lar doce lar

Eles nascem sadios
e crescem lindos .
Cobertos de muito cuidado e
proteção .
E vamos tirando dos seus caminhos
as pontiagudas pedras .
E assim o tempo vai , não volta ,
e vai mais à frente .
E de repente eles crescem e ao mundo
se vão .
E num sono profundo nós ficamos ,
ficamos sós .
E como um pressagio ruim , entram numa
péssima escola .
E lá aprendem o que eles nunca viram no
LAR DOCE LAR .
Jogam pedra na cruz .
E não sabemos quem os induz !
Suas vidas viram fumaça , e eles se reduzem
ao pó .
Mas desse mesmo pó surge a garra de lutar e tentar
seu rebento salvar .
E assim fez a PIETÁ ...
O colocou ao colo .
E da mesma forma para o meu colo eu vou te
buscar .


Adriana Noronha 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013


Batista 

O jovem rapaz cheio de sonhos e com a vida inteira à sua frente , no dia da Independência foi zanzar pelas ruas do Rio , e aquele dia prometia ... " 

"Calça nova de riscado 
Paletó de linho branco 
Que até o mês passado 
Lá no campo inda era flor
Sob o seu chapéu quebrado
Um sorriso ingênuo e franco
De um rapaz moço encantado
Com vinte anos de amor "

E lá se foi , pelas graças divinas o lotação quebrou , e do outro lados belas moças sob rígida vigilância da madre saíram para assistir o Manto Sagrado .
O rapaz chateado resolveu desistir do Baile , lá na rua do bispo , e foi a casa do Estudante , e lá Santa Luzia limpou suas vistas .
E para ele o céu se abriu , entre as moçoilas , uma sem igual , mais linda que aquela lá de Mônaco ou será Portugal ?
E seu coração nunca mais foi o mesmo , e os amigos a sorrir , e disser-lhe .
Aquela ?
Tá difícil ...
E o jovem rapaz falou : " vou casar com aquela ali "
Era um lobo apreciando as uvas .
E a persistência do rapaz amaciava o coração da bela jovem .
E ao som das serestas , seu amor a encantava , e em Paris foram passear .
De repente um noivado anunciado .
O casamento civil para garantir seu legado .
E o religioso para abençoa-los por todo o sempre amém .


Adriana Noronha 
Sexta feira 13

As lembranças da minha infância no quintal
do vovô Chiquim ...
Nos coqueiros , enormes morcegos alados de
vôos endiabrados .
O vento frio que furava qualquer alma viva ,
tornando-a loucamente doida .
A casa tinha um encanto de transformar belos
brinquedos em coisas hediondas .
Belas meninas repletas de candura em espíritos
cheios de feiura .
E os adultos que lá moravam eram como palhaços
tristes e vorazes .
E assim a vida ia
a vida corria pra longe ...
E aquele circo de horrores , me encantava todas
as noites ...
Embaixo das arvores grandiosas e escuras , seu
cheiro enebriava e adormecia .
E lá no alto um ser alvo , e calmo que me contava suas
estórias num silêncio absoluto .
E eu sempre o via todas as noites de minha feliz infância
no galho mais alto da azeitoneira .
Quem seria ?
Quem foi ?
Quem era ele ?
Ao sinal da primeira luz do dia ele sumia , e eu em minha
cama amanhecia .
E aquela árvore encantada pelo progresso foi derrubada .
E hoje , o procuro em meus sonhos , que quando criança
foram pura realidade .
Saudade de ti ...
Muita saudade .


Adriana Noronha