sexta-feira, 24 de maio de 2013

 Epidemia

Quando eu era criança , haviam muitos
monstros ao meu redor .
Tinham formas gigantescas e hediondas ,
corpos roliços , olhos sem brilho .
E arrastavam-se onde quer que eu fosse ,
me espreitavam .
Sentia sua respiração ofegante por sobre
meus ombros .
Quando virava-me repentinamente sumiam
na escuridão do meu quarto .
Mas deixavam um rastro formado com cabelos
longos e sujos .
Eu não podia dormir senão eles me levariam
para longe , bem longe dali .
Então eu rezava , mas sempre no fim da reza
tinha o tal do ...livrai-nos do Malamém .
Lá fora no quintal eles marchavam pisando firme
na areia úmida .
E dentro de casa todos dormiam , o sono dos justos
e justo eu tão pequena , acordada ...
Eram quinze redes entrelaçadas , como uma teia de
aranha .
Não adiantava gritar , o sono dos outros era profundo ,
que nem esse mundo .
Mas quando o Sol surgia , eu de coragem me enchia ,
e ia viver o meu dia .
Hoje procuro em minhas gavetas aqueles a quem temia ,
pois de gente ruim o mundo tá cheio , que nem epidemia .


Adriana Noronha

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Alguém que já sentou na lua.