Um inimigo sincero

E eu que pensei que o desafeto era meu inimigo ,
Ledo engano .
Ele mostrou logo a cara , e me derrubava ,
sempre que podia .
Eu levantava , limpava a poeira , me erguia ,
ia em frente .
E lá vinha ele de novo , me dava uma rasteira ,
e não se escondia .
E assim seguimos nessa peleja por longos dias
aliás longos quatro anos .
Mas eu nunca , desanimei respirava fundo e ia de
encontro , na tora mesmo ...
Não baixei a cabeça em momento algum , e mesmo
fraca e só , eu ia , lutava , acreditava em mim .
E num golpe de extrema precisão acertei o alvo ,
derrubei meu algoz , que agora jaz.
Porém havia perto de mim , alguém mas voraz
que o meu algoz .
Que me olhava com olhos de ternura , me dava
carinho e paz .
E eu sem saber , que aquela imagem terna escondia
o próprio mal em forma de " gente " .
E materializava-se anjo , e sorrateiramente me esfolava
as carnes .
Eu teimava em não acreditar no que via .
no que ouvia
no que fazia
no que acontecia .
Até que um dia mostrou-se sem máscara , e desnudou
sua face .
Ai sim , eu caí morta , numa rua torta ao pé
da tua porta .
Mas o pior foi saber que tu não se importa .
Meu
inimigo
tava
mais
perto
do
que
eu
imaginava .


Adriana Noronha