quarta-feira, 28 de agosto de 2019


Eles estavam sempre ali, por perto, protegendo a menina daquela figura medonha, de palmas de mão brancas, criatura sorrateira, de passos silenciosos, de respiração ofegante e vil.
Aquela alcova de meias paredes era uma cova. 
Ao cair da tarde se entristecia a menina, naquele mundo estranho,ali a Lua se escondia, não brilhava, não vinha...
Tudo lhe foi tirado,pra um inóspito lugar, seu sono foi jogado,o frio da noite gelava,e o pavor estava na sua alma.
Na sua mala ela levara seus fantasmas pueris, seus companheiros de bons tempos, tempos de vida feliz.
E aquela criatura dantesca, disfarçada de branco encardido, tinha uma índole torpe,um sorriso em forma de pontiagudas lanças, que exalava cheiro de enxofre em suas andanças noturnas.
De dia, ser gente,fingia.
A materialização da agonia.
Mas seus espíritos do bem estavam ali, velando, vigiando, butando sentido, e o sono a derrubava, era profundo, e em sonho a menina voltava pra casa de onde nunca deveria ter saído.
Por lá, feliz ela ficava, entrava e saia, sentia o aroma bom dos dias, lá sua vida fluía.
A vela iluminava o caminho de volta, e ela atravessava aquela porta sem tramela, sem chave, uma pesada porta azulada, o chão de assoalho vermelho carmim, onde flutuavam móveis pesados e fornidos, de um veludo mudo.
Mas seu mundo era salvo por seus fantasmas preferidos, que afugentavam aqueles passos silenciosos malditos.
Nenhum mal dura para sempre, mas o mal sempre vai rondar.
Quem viver verá...

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Alguém que já sentou na lua.