A menina que morava na Carapinima
Mais uma história da menina que morava lá na Carapinima, aquela, a número doze da prole de treze filhos do mecânico casado com a fidalga loura e charmosa lá de Redenção, antiga Vila do Acarape, que casou com o amor de sua vida, mas a fazenda não herdou...
E assim começou nossa saga, o Seu Brasil era alto, magro, esguio e muito inteligente, mas era só mecânico, e que mecânico...
A menina da Carapinima tinha tudo de bom, além de doze irmãos, dez cachorros e doze gatos lá naquele quintal gigante, tinha uma casa razoavelmente grande, ali entre o novo viaduto da Zé Bastos e o viaduto da Pade Ciço...
A Avenida da Universidade era no fundo do seu quintal, e lá não tinha portão, os irmãos pulavam o murro, mas as moças não, elas tinham que arudiar, pela Antenor Frota Vanderlei, para pegar o Parangaba Aldeota, para ir pra natação lá no BNB Clube, ir pra Escola Normal Justiniano de Serpa, ou passear lá no Center Um, salvo engano o primeiro shopping de Fortaleza.
Numa tarde de sábado foi com as amigas ao cinema, e lá encontrou-se com uma prima rica, que só andava no high society, e ao lado dela um vizinho lindo, que morava na Fiúza de Pontes, alto,moreno,o cabelo era duro, mas isso era só um detalhe, no resto o menino era lindo, e carioooca, chique.
Os olhos cor de mel, uma cor que nenhum vivente possuía, eu estava com um vestido de linho bordado, cheio de florzinhas na barra, cintura fina, saia farta, e debruns em ton sur ton lilás, as outras mais modernas de calça cocota, e blusas frente única, mas eu adorava aquele vestido, detalhe, não era meu, era da Rogena Brasil a irmã intelectual, que estudava na UNIFOR, mas usei por uma boa causa.
Era ruim ir pro cinema no Center Um, lá não tinha pastel com caldo de cana na saída, tinha era BANANA SPLIT, MILK SHAKE, BATATAS FRITAS.
Égua, sem pastel nem tem graça !
Aqui só tem gente da auta sociedade ! falou a Silvia...
ALTA sociedade ! falei.
Foi o que eu disse .Tá bom !
Abel era o nome do bonitão de treze anos quase dois metros, igual daquele que na Bíblia era finado.
O mais bonito gostou foi de mim, pagou o lanche, e queria pagar o fliperama, nem gostava disso, mas era moda, e a gente tinha que entrar na onda.
E a tarde começou a cair.
Bora meninas, vamos perder o Parangaba das cinco, eitha vamos para o ponto...
Você assim, não combina com ônibus...
Hoje o motorista foi levar meu pai pra jogar tênis lá no Naútico Atlético Cearense, por isso vou de ônibus, eitha exagerei na mentira.
Eu levo vocês !
Precisa não.
Meu motorista já está esperando.
Pronto, as meninas todas entraram no Landau, e foram descendo uma a uma, e eu por sorte fui a última.
E agora ?
Pode parar, é ali, naquela casa rosa...
O menino era lindo,mas não era pra mim não, muito moderno, muito rico, e eu também fiquei rica naquele dia, quando parei em frente à casa do Dr. Roberto e esperei ele sumir rumo a Aldeota.
Alde Aldeota tô batendo na porta, sou da América, eu sou da lata do lixo eu sou do lixo da aldeia, eu sou do Ceará.
Era assim que a vida dos adolescentes dos anos setenta fluia, assim a gente vivia, assim fomos felizes de um tempo bom, um bom tempo que não volta mais...
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Alguém que já sentou na lua.