Ciço, o mirim
Meu irmão Reinaldo era alto, louro, robusto e bonito, quando colocava suas calças boca de sino, camisa de crepe branca, sapatos plataforma cuidadosamente engraxados e brilhantes,cabelos ao vento, se aprontava assim, muito alinhado para ir às Tertúlias do Naútico Atléico Cearense, ele fazia o maior sucesso entre as moças da elite. Mas no fim da festa que tocava The Pops,o bonito rapaz voltava pra casa de ônibus, saía na madrugada no fim do baile e ia ao ponto pegar o Parangaba Circular, pra voltar pra Carapinima.
No momento de descer, viu uma criança a dormir no fundo do ônibus, não pensou duas vezes, pegou a criança no colo e levou pra casa. E lá chegando a Maria Justa estava a sua espera.
Olha mamãe, o que eu achei !
Reinaldo !
E ao amanhecer aquela criança foi uma sensação, sete, oito anos talvez, minha idade, o André tinha cinco, virou nosso irmão,só tinha uma diferença, ele era negro, mas a escola era mesma, mesmo clube, bicicleta, brincadeiras, roupas, páscoa ,natal, casa da serra, onde nós estávamos ele também estava, seu nome era Ciço, de Cícero, o padre, nosso quintal era nosso lugar.
O ano era 1969, 1970, e assim fomos crescendo juntos, feito três irmãos, os treze filhos viraram quatorze, e a vida fluiu, até que depois de quatro anos Ciço evaporou, sumiu, saiu e não mais voltou, meus irmão o procuraram, não encontraram, a nossa tristeza foi grande.
O tempo passou, novas luas vieram, a brisa da noite não mais o trouxe pra nós, e deixamos de ser crianças para crescer um pouco mais, não tanto, só um pouco...
Quando saia da Escola Doméstica São Rafael, eu esticava as canelas pela Imperador, passava pela Tristão Gonsalves, pegava a General Sampaio e chegava ao Romcy, entrava na Samasa, dava uma olhadinha na Esquisita, Lobrás, tomava um caldo de cana com pastel na Leão do Sul, atravessava por dentro das Lojas Americanas, apressando o enxoval do noivado com um baiano, e voltava pela Guilherme Rocha para a Praça José de Alencar, ia pegar o amarelinho Jardim América,pois me deixava na porta de casa, na Carapinima, que tinha virado José Bastos, por conta do progresso que levou muitas casas de vizinhos e amigos, deixando um viaduto onde ora eram aquelas casas.
Andando absorta em meus sonhos e pensamentos...
De repente ouvi.
Cumade Cirninha !
Parei, olhei ao redor.
Quem me chamou pelo meu apelido ?
Minha irmã !
Adriana, cadê o Andlé ?
E diante de meus incrédulos olhos.
Um rapaz alto, musculoso, de roupas ordinárias, pele escura e dentes muito alvos, ornando um sorriso inconfundível..
Ciço !
Meu Deus, Ciço.
E o meu coração disparou em alegria.
E instintivamente abracei meu irmão de cor, uma moça de família abraçando um mirim, era a imagem que viam os transeuntes.
Eu, abraçava meu irmão.
Tu fugiu, sumiu, desapareceu. Por quê ?
Eu sou do mundo, adorava vocês, mas não me adaptei, e voltei.
Quantos anos ? Dezesseis. E tu ? Dezessete tou perto de morrer.
E Ciço chamou seus parceiros e avisou.
Gravem a cara dela, quem triscar morre !
Eu mando aqui e na Praça da Estação, venha sem medo, minha irmã.
Nos despedimos num longo abraço, talvez para sempre, e uma noite a assistir a Verdes Mares, Nazareno Albuquerque anunciava a morte do mirim mais famoso do centro da cidade, sob o comando de Assis Bezerra, sucumbia mais uma criança, que só queria ser feliz.
No momento de descer, viu uma criança a dormir no fundo do ônibus, não pensou duas vezes, pegou a criança no colo e levou pra casa. E lá chegando a Maria Justa estava a sua espera.
Olha mamãe, o que eu achei !
Reinaldo !
E ao amanhecer aquela criança foi uma sensação, sete, oito anos talvez, minha idade, o André tinha cinco, virou nosso irmão,só tinha uma diferença, ele era negro, mas a escola era mesma, mesmo clube, bicicleta, brincadeiras, roupas, páscoa ,natal, casa da serra, onde nós estávamos ele também estava, seu nome era Ciço, de Cícero, o padre, nosso quintal era nosso lugar.
O ano era 1969, 1970, e assim fomos crescendo juntos, feito três irmãos, os treze filhos viraram quatorze, e a vida fluiu, até que depois de quatro anos Ciço evaporou, sumiu, saiu e não mais voltou, meus irmão o procuraram, não encontraram, a nossa tristeza foi grande.
O tempo passou, novas luas vieram, a brisa da noite não mais o trouxe pra nós, e deixamos de ser crianças para crescer um pouco mais, não tanto, só um pouco...
Quando saia da Escola Doméstica São Rafael, eu esticava as canelas pela Imperador, passava pela Tristão Gonsalves, pegava a General Sampaio e chegava ao Romcy, entrava na Samasa, dava uma olhadinha na Esquisita, Lobrás, tomava um caldo de cana com pastel na Leão do Sul, atravessava por dentro das Lojas Americanas, apressando o enxoval do noivado com um baiano, e voltava pela Guilherme Rocha para a Praça José de Alencar, ia pegar o amarelinho Jardim América,pois me deixava na porta de casa, na Carapinima, que tinha virado José Bastos, por conta do progresso que levou muitas casas de vizinhos e amigos, deixando um viaduto onde ora eram aquelas casas.
Andando absorta em meus sonhos e pensamentos...
De repente ouvi.
Cumade Cirninha !
Parei, olhei ao redor.
Quem me chamou pelo meu apelido ?
Minha irmã !
Adriana, cadê o Andlé ?
E diante de meus incrédulos olhos.
Um rapaz alto, musculoso, de roupas ordinárias, pele escura e dentes muito alvos, ornando um sorriso inconfundível..
Ciço !
Meu Deus, Ciço.
E o meu coração disparou em alegria.
E instintivamente abracei meu irmão de cor, uma moça de família abraçando um mirim, era a imagem que viam os transeuntes.
Eu, abraçava meu irmão.
Tu fugiu, sumiu, desapareceu. Por quê ?
Eu sou do mundo, adorava vocês, mas não me adaptei, e voltei.
Quantos anos ? Dezesseis. E tu ? Dezessete tou perto de morrer.
E Ciço chamou seus parceiros e avisou.
Gravem a cara dela, quem triscar morre !
Eu mando aqui e na Praça da Estação, venha sem medo, minha irmã.
Nos despedimos num longo abraço, talvez para sempre, e uma noite a assistir a Verdes Mares, Nazareno Albuquerque anunciava a morte do mirim mais famoso do centro da cidade, sob o comando de Assis Bezerra, sucumbia mais uma criança, que só queria ser feliz.
Adriana Noronha.
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Alguém que já sentou na lua.